domingo, 18 de dezembro de 2011

Ética,tem-se ou não.

Quando o assunto é ética para com as pessoas com deficiência, existem duas abordagens estabelecidas por lei: a primeira, mais antiga, baseia-se no modelo médico; a segunda é o modelo seguido atualmente e baseia-se no conceito social.
No modelo médico, as pessoas com deficiência eram vistas como incidente isolado e sem qualquer relação com questões de interesse público, relevância econômica, política ou social. No enfoque do modelo médico, a deficiência era assunto de responsabilidade somente do deficiente e com conseqüências somente para ele e sua família, deixando a sociedade isenta de qualquer compromisso. Isso dificultava, inclusive, a formação de leis sólidas, que realmente garantissem os direitos básicos, como acessibilidade, inclusão escolar, no trabalho, integração geral na sociedade e principalmente o combate a ações discriminatórias.
Já o social, modelo atual, considera as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência, fruto da forma como a sociedade trata as limitações, sejam físicas, intelectuais, sensoriais ou múltiplas de cada indivíduo. A deficiência é entendida como construção coletiva e condição flexível, não necessariamente permanente. Afinal, se as barreiras de acesso são removidas, a relação de desvantagem passa a ser parcial ou, mesmo, completamente abolida.
O modelo social está relacionado, ainda, ao desenvolvimento e garantia total e irrestrita a inclusão em todos os setores da sociedade, a ética da diversidade, que tem, como ponto principal, o ser humano como um todo, com suas características individuais e privilegia ambientes heterogêneos, celebrando toda e qualquer diferença entre pessoas, onde cada um é valorizado como é, com suas experiências, contribuindo na elaboração de novos pensamentos e ações, construindo uma sociedade rica em ciclos de relacionamentos e ampliando a vivência de cada pessoa,bem como a consciência da complexidade e da simplicidade que existe em todo ser humano, independente de suas diferenças.
Do ponto de vista da ética da diversidade, a pessoa com deficiência não representa um equívoco, um deslize da natureza, que gerou seres anônimos a serem tolerados ou desrespeitados.
Diante desses modelos de ética para com as pessoas com deficiência, principalmente o primeiro, percebem-se os graves erros que marcam a história.
Existem pontos de estudos que  atribuem a ética à falta dela, às questões culturais e ou regionais. No Brasil, a falta de ética começa com  atos, como, por exemplo, a conhecida Lei de Gérson, "O importante é levar vantagem em tudo, certo?"
Quando o assunto é sobre deficiência, a falta de ética se aplica de variadas formas. Uma das mais clássicas é a frase dita, insistentemente, por quem para em vagas reservadas “ah, mas é rapidinho, nem deve ter deficiente aqui”, e talvez nem tenha mesmo, justamente por atitudes como essas. Uma paradinha rápida significa o dobro gigantesco no caminho do cadeirante, que é bem mais demorado que uma pessoa sem deficiência, pelo fato de ter que descer do carro, usando somente as mãos, sem os movimentos das pernas, o que piora no caso de quem tem uma deficiência motora, quando os movimentos que exijam força e coordenação nos braços são bem mais complicados. Com tais dificuldades, por muitas vezes, acabam desistindo e indo embora.
Em um país, onde, até um tempo atrás, como bem disse o primeiro modelo, a deficiência era considerada um equívoco da natureza, com leis afrouxadas, onde a relação com o deficiente era pautada no descaso e exclusão total, não será somente se apoiando nas novas políticas de inclusão que ela acontecerá com a plenitude a que tem direito e a que merece,pois, como todos veem, a concepção sobre o papel do deficiente e da sociedade para com ele mudou, porém somente no papel.Isto, porque a exclusão ainda é uma realidade.
A inclusão ocorrerá, quando tivermos a consciência de que, para tratar deste assunto, não é necessário ter piedade nem medo de lidar com suas dificuldades. Ou, como diz o modelo 2, simplesmente tolerá-los, e, sim, ter a ética de respeitar todos os direitos que lhe são garantidos e, mais do que isso, é saber que ética não é algo que se usa somente quando nos convém, quando achamos que devemos praticá-la, ou somente quando nos favorece interesse próprio. Ética não é somente fazer tudo certinho, é agir e pensar coletivamente, é sair do discurso e ir à ação, é ter noção de civilidade, é ter a capacidade de deixar o egocentrismo de lado e colocar-se no lugar do outro.
Não adianta termos ética no trabalho, se, ao sair de lá, não respeitarmos as pessoas como indivíduos, pois não existe meia ética. ÉTICA, OU SE TEM OU NÃO!

sábado, 24 de setembro de 2011

Preconceito na Paulista

Assisti a um vídeo e fiquei angustiada, ao ver uma pessoa chamando outra de lixo, de macaco.
Postei o vídeo numa de minhas páginas de rede social, acompanhado de um trecho de um texto que eu já havia escrito sobre “O preconceito para com a deficiência física ocorre, porque ela incomoda, é visível, constrange alguns, enquanto o deficiente de espírito, o aleijado moral não tem “defeito aparente”, porquanto se consideram mais valorosos, o que é um grande engano, pois muitas vezes denigrem a espécie humana.
Recebi um comentário, dizendo que o exemplo não foi muito bom, que os policiais eram despreparados e que a senhora aparenta ter problemas físicos, com o que concordo(pois usa um andador) e psíquicos.Comecei a digitar a resposta, e,como sempre escrevo muito, acabou virando um texto.
Se chamar uma pessoa de lixo, de macaco, seja ela deficiente ou não, é normal e pode ser usado como desculpa o desequilíbrio psíquico, está explicado por que a humanidade está no ponto em que está. Sem amor, sem respeito,sem compaixão, sem tolerância. A distinta senhora usou sua condição social mais favorecida, para humilhar e espezinhar um outro ser humano. Se ele estava incomodando, ela que o tratasse como gente e pedisse que a polícia o tirasse de lá. Não estou discutindo o pedido dela, embora ache que isto é um egocentrismo sem tamanho.
Mas a questão em foco é a maneira como essa senhora se referiu a uma pessoa, o que denota  discriminação e preconceito, o que,em qualquer uma de suas esferas, seja ele, racial, físico ou social, é crime. A única maneira de se punir um crime é mandando o infrator pa ra a cadeia, pois esta é a lei e tem que ser cumprida. Os policiais apenas cumpriram sua obrigação. A lei vale para todos, seja pessoa desequilibrada ou não.
O desequilíbrio realmente parece latente na personalidade dela, o que significa que não deve andar sozinha, mas procurar tratamento e que seja medicada da melhor forma, para ter restabelecer sua sanidade. Entretanto isto não é uma responsabilidade da polícia. Percebemos que ela tem a seu favor toda uma condição de tratamento, para controlar os “pitis” e provavelmente amparo da família e advogados, ao contrario da pessoa (o lixo, segundo ela disse) que estava ali, na rua, que se mostrou totalmente sem condições de se defender daquela situação. Além do desequilíbrio, consegui perceber sua soberba, certa de que ela é melhor do que as outras pessoas, independente de seus atos. Que a parte pobre da humanidade, para ela, é descartável, analfabeta, vagabunda, lixo mesmo. Policiais podem ser destratados, como foram por ela? Por mais desequilíbrio que alguém tenha, quando a humildade é visceral em sua personalidade, jamais terá uma atitude como essa.
Você tem razão, talvez meu texto esteja realmente inadequado para com a situação, pois coloquei somente a deficiência no centro da reflexão, enquanto ali se discute o respeito amplo ao verdadeiro, “direitos humanos”. Porém, no meu caso, não dá para deixar de lado o preconceito também pela deficiência, pois é algo intimamente ligado a mim e, acredite, já vi muitas pessoas com deficiência sofrendo situações absurdas por parte de pessoas, como essa senhora um “pouquinho desequilibrada”. Esses deficientes acabam deixando de denunciá-las por medo, insegurança, falta de informação. Também,  por serem tratados como lixos, acabam, realmente,  sentindo-se  como tal. Isso dói em minha alma.
Pode até ter sido sensacionalista, porém a única responsável pela produção do espetáculo foi a distinta senhora, pois a mídia só reporta o que acontece. Sendo mostrado de maneira sensacionalista ou não, o fato aconteceu e tenho certeza de que nada, ali, foi inventado infelizmente.
O que a polícia deveria ter feito? Jogado o "lixo” numa caçamba e pedido perdão à “senhora desequilibrada”?
Esse “lixo” poderia ser alguém próximo de mim, de você.
Também acredito que não seja só o governo o responsável por seres, como aquele senhor, estarem jogados na rua "incomodando” as pessoas. Eu, como deficiente física, sei das consequências de cada palavra ouvida, de cada olhar de desprezo, de cada atitude de pessoas como a dessa senhora, mostrando que nos acham seres insignificantes e um erro da natureza ou, segundo ela, lixos. Imagine sendo pobre e deficiente!
Nem todos têm a sorte de ter uma família estruturada emocionalmente, para ajudá-los a superar situações como essas.
Prisão de pessoas como essa senhora já é uma perspectiva de mudança.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A caminho de uma nova sociedade


Foi extraordinário o número de jovens na 1ª Conferência Municipal da Juventude de Presidente Prudente, no último 19 de agosto. Aproximadamente 580 jovens cidadãos, interessados em mudanças, em roformas políticas, dispostos a “gritar e a lutar”, para que seus objetivos e necessidades sejam ouvidos e atendidos.
Impressionante, também, a organização, mantendo esses jovens sempre ativos e envolvidos o tempo todo, em cada passo do evento.O triste é ver que, em meio a tantos jovens, não havia ninguém, além de mim, com deficiência.
Segundo o IBGE, Presidente Prudente tem, aproximadamente, 20.386 pessoas com deficiência. Onde estão? Por que não participaram? Falta de interesse da parte deles?
Acredito que não, pois tantos são os atropelos impostos pela falta de acessibilidade, transporte, entre outras situações vividas, que são extremamente injustas. Acabam-se deixando vencer pelo muro da exclusão, que separa as pessoas e distorce seus mais nobres potenciais.
Consegui perceber que a inclusão da Pessoa com Deficiência sequer passava nos planos de discussão, quando, em um determinado momento da Conferência, foi realizada uma divisão de grupos, para discutirem assuntos importantes, citando seus problemas e apontando soluções, para serem trabalhados posteriormente. Meu grupo tratou de Educação e trabalho. Sugeri, evidentemente, a inclusão real nas salas de aula, não simplesmente “jogar” a pessoa no ambiente escolar, e não ser trabalhado da maneira correta, aproveitando o potencial de cada um, da melhor maneira. Acontece que senti falta de apoio e interesse maior das pessoas por esse assunto.
Voltando à reunião geral, onde foram lidas as sugestões de cada grupo e, após, foi realizada a candidatura de delegados para as próximas Conferências e para trabalharem as necessidades dos jovens. Resolvi candidatar-me. Foram 35 candidatos para 15 vagas e, para minha surpresa, fui eleita por unanimidade. O contentamento tomou conta de mim, percebi e senti, mais uma vez, que só saindo das nossas “tocas”, mostrando a cara e enfrentando essa realidade , é que conseguiremos algo melhor: mudar o pensamento das pessoas mal informadas e mostrar que deficiência não é sinônimo de incapacidade.
Não dá para falar em uma sociedade mais justa, esquecendo aquilo que achamos ser uma minoria sem expressão. Pessoas com deficiência não são simples leis postas num papel, são pessoas, indivíduos com opiniões e realidades diversas, que têm muito que contribuir e expressar.
Agora é hora de botar em prática todo o pensamento e discurso de aceitação do diferente. Isto,porque o mundo é realmente “rico” em diversidade de pessoas. Incluir é fazer interagir, e não figurar”. É acreditar no potencial humano, sem julgá-lo pela sua aparência ou por estereótipos já traçados.Incluir é dar oportunidade, respeitando e aceitando as dificuldades e particularidades de cada um. É saber encaixar as ações e pensamentos na prática. Incluir é pensar no coletivo. E o mais difícil, para fazer valer a real inclusão, é deixar o próprio ego de lado e olhar para o outro, sem uma opinião já pré-determinada. Quando isso cair por terra, aí, sim, todos os tipos de inclusão serão colocados em prática...  Incluir é saber ouvir, saber delegar, saber trabalhar toda e qualquer oportunidade de demonstração de qualquer tipo de talento que surgir, por mais “frágil ou incapaz” que alguém pareça ser, seja por condições estéticas, físicas ou intelectuais.
O que tem que estar sempre em mente é que cada ser humano é realmente uma caixinha de surpresas, que sempre pode dar bons resultados, independente de quem seja essa ideia.
É importante, ainda, repararmos na diferença de inclusão verdadeira ou de complacente e piedade. Com efeito, incluir é sabermos exigir e extrair o melhor que cada um pode dar, apesar de suas limitações...
Por isto, acredito em que a 1ª Conferência sobre Políticas Públicas da Juventude de Presidente Prudente realmente será um divisor de águas no cenário público da cidade, pois falará de inclusão do jovem em todos os seus aspectos e amplitudes.
 Marcos Vinha(vice´prefeito), Tupã (Prefeito)Juliano  Borges (Assessoria de Juventude/Gabinete do Prefeito)
Ed Thomas (Deputado) e Selma Alves de Freitas Martins (Secretaria Municipal de Educação)
 Dr. Luiz Antonio Miguel Ferreira (Promotor da Infância e Juventude)

 
 Dra. Marisa Feffermann (Diretora do Institudo Saúde da Secretária do Estado da Saúde)
 Tupã (Prefeito)


Pessoas  interessantes e interessadas em mudanças reais.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Luzes acesas e... mão na roda!

Sou um ser em metamorfose, que dá asas à imaginação, que me deixa, por longos momentos, com ausência do mundo. Crio, fantasio, produzo, dirijo, acendendo as luzes do palco e entro em cena...
Foi pensando em converter estas palavras em ações que resolvi,  mais uma vez, entrar em cena, dessa vez, numa situação diferente. Resolvi  inscrever-me  na oficica "O Fazer Cinematográfico’’, ministrada pelo ator e cineasta Vicentini Gomez, de 25 a 31 de julho, no Centro Cultural Matarazzo de Presidente Prudente –SP.
Quis experimentar  minhas aptidões no mundo cinematográfico, já que é um sonho de criança, viver a arte;  descobrir onde me sairia melhor, conhecer a criação, produção, direção desse maravilhoso mundo de fantasia, ficção, realidade...
Chegando lá, senti um frio na barriga. Em meio a 70 pessoas inscritas, eu era a única com deficiência. 
Descobri minhas habilidades e o que a cadeira me impedia de realizar como qualquer pessoa, encontrei dificuldades para alguma atividade, mas compensando em outras, descobrindo até onde posso ir, meus talentos, que independem de uma cadeira de rodas.
Como resultado da oficina, foi produzido o documentário “Visões’’, com a participação dos alunos. O filme mostra as diferentes visões do “amor’’ e da “felicidade’’, com imagens capturadas na cidade e  depoimentos de pessoas de diversos segmentos sociais e culturais de nossa cidade. Dentre elas, dona Eva de Assis dos Santos, catadora de lixo e presidente da Cooperativa dos Trabalhadores de Produtos Recicláveis de Presidente Prudente [Cooperlix], a jornalista Mirian Ribeiro, o músico e professor Luizão(Projeto Camerata), Sebastião José de Oliveira – “Baiano” (engraxate), o Advogado e escritor Henrique Chagas, Leonardo Ferreira – “Léo” (Produtor Cultural / Professor Hip Hop e Grafiteiro)    e, para minha surpresa, também fui convidada pelo diretor, para prestar um depoimento.
Segundo Vicentini Gomez, o que torna o documentário interessante é mostrar o cotidiano e perceber que, apesar das diferenças, cultural e social, que separam os depoentes, suas visões sobre o tema se cruzam.
Com uma prévia exibida no domingo, o documentário emocionou a todos com as histórias de superação e determinação para alcançar a felicidade, buscar o amor e a realização pessoal. Terá sua edição finalizada e será apresentada no final de setembro, prometendo, ainda, mais emoção e surpresa!
A oficina foi uma grande oportunidade, para mostrar que é possível fazer cinema em Presidente Prudente. Apesar de ser uma área de pouco investimento na cidade, existem excelentes profissionais dispostos a trabalhar com extrema dedicação.
E os planos não param por aí. Motivados pela oficina e com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Presidente Prudente, alguns participantes estão planejando a criação do Cine Clube Municipal.
Haverá,ainda, no mês de agosto, a oficina de Cineclubista, ministrada por José Vinagre, na Oficina Cultural Timochenco Wehbi .
E acrescento, mais, que tudo é possível e válido para a realização do Amor e da Felicidade, posto que, se valorizarmos apenas nossos limites, nunca viveremos, plenamente, a vida.
Superar-nos também é isto, um processo de autoconhecimento.
... E é isto aí, pessoal, luzes acesas e mão na roda!


Primeiro dia de oficina

Reunião para discussão de roteiro
Reunião para divisão de equipes
Alguns flashs da gravação do depoimento

Vicentini Gomez...depois da gravação

Equipe de gravação

Equipe na finalização da oficina.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

As facetas do preconceito


Nessas férias, vivi tantos momentos. Infelizmente, pude constatar que ainda há muito a ser feito, para se quebrar o preconceito. Saí com muitos amigos. Como a diversidade é grande. Percebemos como o “diferente” ainda  assusta, causa indignação, impotência, em outros raiva; por incrível que pareça vivi tudo isso em um mês.
O que percebi foi que, quando saí com amigos sem deficiência física, a única fonte de olhares diferentes era eu mesma, mas nada que não fosse contornável ou superável.
Outra situação foi quando fomos numa festa e depois num bar, com um grupo  mais diversificado,  com quatro amigos sem deficiência física, um gay e eu, cadeirante. Sim, estranho falar dessa forma, mas é assim que somos classificados... Foi exatamente dessa maneira que ouvi o garçom se referir ao outro para nos atender.
Falando em garçom, também achei graça quando saí com uma amiga, que mora em São Paulo, (tem má formação congênita nos membros inferiores e superiores, ou seja, usa  prótese nas pernas e não tem parte dos dois braços), a mãe dela e  a minha mãe, pedimos água e refrigerante e ela um chope. O garçom nos serviu e o chope botou para a mãe dela, quando ela disse, o a água é minha, o chope é dela, ele ficou tão surpreso, enrolou-se todo para servir e trouxe um canudinho para ela beber o chope, detalhe, ela não precisa do canudinho, ela faz tudo normalmente, inclusive pegar num copo para beber seu chope.
Dias depois fomos numa igreja, num culto de jovens, gostei bastante, pessoal bacana. O curioso foi que um dos jovens que estava pregando ficou tão “sensibilizado”, tão sem saber o que fazer, que ficou atrapalhado na hora de falar. Foi então que entendi que ele queria nos dizer que aqui na terra estamos “infelizes”, mas que lá no céu teremos “asas para voar”. Percebi que ele sentiu uma pena da gente, tadinho; ele só conseguiu enxergar  nossos corpos, nada além disso...  E no momento que ele falava, nos olhando fixamente, uma outra amiga nos ofereceu uma bala, eu toda enrolada com minha coordenação, peguei mas não abri, quando ouvi a pessoa perguntar para minha amiga que não tem as mãos e parte dos braços: ”quer que eu abra pra você?”. Antes de terminar a pergunta, ela já estava levando a bala na boca e ainda me perguntou se eu queria que ela abrisse a minha. Imediatamente tomei “vergonha” e abri a minha, mesmo com dificuldade. Percebi que o “pregador” olhou a cena mas não enxergou, não entendeu que não somos dignas de pena, que não somos seres infelizes aguardando chegar nos céus para voarmos...Voamos aqui!!(hehe)
Como sempre digo, o preconceito é uma praga que denigre a espécie humana. Não foi diferente no hospital onde minha avó ficou internada. Eu e minha mãe fomos passar a tarde com ela, quando chegaram dois enfermeiros para levá-la  a um setor de RX. Percebi que um deles, ao me ver no quarto ficou extremamente irritado, sentiu raiva, pediu para sairmos, para que preparassem minha avó. Fomos para o corredor e nesse momento aconteceu uma coisa muito engraçada, uma enfermeira chegou, pegou na minha cadeira e disse:” O exame é na sala ao lado”. Respondi: “Não sou paciente, estou visitando minha avó, sou cadeirante só, não estou doente!”
Ela ficou tão sem graça, que mal conseguiu pedir desculpa. Voltando ao enfermeiro, que estava profundamente irritado com minha presença, voltou no quarto no final da tarde e meu avô já havia chegado e mais dois parentes, ele perguntou o grau de parentesco de cada visitante, claro que não me perguntou nada, minha mãe que disse, ela é neta. Ele não deu resposta e pediu que meu avô fosse falar com ele  no corredor. Simplesmente solicitou que ele me mandasse sair porque estava tomando muito espaço lá no quarto. Meu avô não sabia o que fazer e falou para minha mãe. Como era um ambiente de hospital, ela não discutiu,  por medo que ele maltratasse minha avó, e simplesmente me chamou pra irmos embora.
 Também fui num jornal no Paraná (não nessas férias) mas o absurdo foi tão grande que vale ser citado. Estávamos divulgando um projeto de inclusão, que participo. Fomos eu, uma outra garota que é desse estado e também faz parte do projeto e o autor do mesmo (que não tem deficiência) e meus pais. Fomos recebidos pelo editor-chefe e após a entrevista ele nos convidou para conhecer a repartição que, para mim, foi maravilhoso, já que curso jornalismo. Na saída, uma das jornalistas (que estava grávida) disse a outro colega: “nossa, que clima pesado, depois que elas saírem, precisamos mandar benzer esse lugar”.  Minha mãe, que tinha ficado para trás, porque ficou conversando com uma estagiária curiosa em entender melhor o nosso dia-a-dia, ouviu.  Ficou sem reação, porque considerava que num lugar de pessoas que trabalham com a noticia, que são consideradas tão cultas, lêem muito, porque a profissão exige, achou que essas pessoas tivessem a visão ampliada. Ela só conseguiu me contar muito tempo depois, porque o choque foi grande .
A resposta que dei à minha mãe é a verdade que carrego. O preconceito está em todas as partes; não tem cor, credo, classe social ou intelectual, não tem forma, não tem cheiro... Ele está impregnado na alma dos frustrados, dos soberbos, dos desavisados, dos ignorantes, dos fúteis, dos miseráveis...  Mas quem sou eu para criticá-los ou ignorá-los, se sabemos que a perfeição não existe?
Estamos aqui para aprender, evoluir, deixar nossa história marcada de maneira positiva, ou não, viver o que Deus preparou para cada um de nós, se Ele me permitiu essa deficiência é porque sabe que sou forte o bastante para assumi-la. Porque o mundo é de Deus, mas Ele empresta aos valentes!
A vida é feita de escolhas. Eu escolhi ser valente, ser feliz! E não há preconceito de  ninguém que vá me derrubar, porque não sou a deficiência, sou Camila Mancini.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

E lá vem o mito da Paralisia Cerebral.

O termo paralisia cerebral (PC) é usado para definir qualquer desordem caracterizada por alteração do movimento secundário, caracterizado por uma lesão não progressiva do cérebro em desenvolvimento.
O cérebro comanda as funções do corpo. Cada área sua é responsável por uma determinada função, como os movimentos dos braços e das pernas, a visão, a audição e a inteligência. Uma criança com PC pode apresentar alterações que variam desde leve falta de coordenacão dos movimentos ou uma maneira diferente, para andar, até a inabilidade para segurar um objeto, falar ou deglutir.
O desenvolvimento do cérebro tem início logo após a concepção e continua após o nascimento. Ocorrendo qualquer fator agressivo ao tecido cerebral antes, durante ou após o parto, as áreas mais atingidas terão a função prejudicada e, dependendo da importância da agressão, certas alterações serão permanentes, caracterizando uma lesão não progressiva.”  (Fonte: Rede Sarah Kubistchek).
No meu caso, como já expliquei em vários textos, minha dificuldade ocorre nos movimentos finos, como escrever com lápis, cortar alimentos com faca... e no andar, quando sou muito, muito lenta e descoordenada.
Mas o engraçado é que, quando é visível minha dificuldade, e é somente física, o cognitivo e a fala foram preservados. Mesmo assim, algumas pessoas assustam-se, quando lhes digo o  “nome” que define minha deficiência, uma reação de espanto, onde entra aquela clássica dúvida: “Meu Deus, onde me estou metendo? Será que essa paralisia é genética, é progressiva, será que a qualquer momento ela poderá ter um surto psicótico? Será que ela vai conseguir entender tudo que vou dizer?
Isto ocorre, quando existem pessoas que ainda se dão o benefício da dúvida, que é direito de todos, quando estão diante de uma situação desconhecida. Ruim, mesmo, são aquelas que já determinam que não entendo nada, dirigem-se a quem me está acompanhando, para perguntar-lhe algo ou, se   perguntam a mim, usam a linguagem “fofinha”, que, por muitas vezes, nem criancinhas de cinco anos suportam.
Dois casos engraçados ficaram marcados. O primeiro foi com a apresentadora de um telejornal, do qual participei, para divulgar a parceria de um projeto de inclusão com um programa da mesma emissora. Ela sabia que ia entrevistar uma jovem com deficiência, que participa de vários projetos de inclusão e que acabara de ingressar na universidade, para cursar jornalismo. Maravilha!!! Até que recebeu mais informação e ficou sabendo que tenho PC. A pergunta imediata foi: "Nossa, ela vai entrar de maca? Ela vai conseguir comunicar-se? O que farei, quando ela entrar? Como a entrevistarei?"
Aí chegou o momento que mais adoro, a hora de desbancar a inimiga nº 1 de todas as pessoas com deficiência e a principal fonte do preconceito, neste caso, a má informação. Quando fomos apresentadas e ao longo da entrevista, senti que sua insegurança e incerteza foram desaparecendo, até que, ao final, ela me disse que fazia outra ideia de Paralisia Cerebral e me agradeceu,  por tê-la esclarecido, mesmo que indiretamente, esta questão.
O segundo caso foi o mais cômico ou trágico, dependendo do ponto de vista. Conheci um garoto, paixão à primeira olhada, literalmente. Saímos, conversamos muito. Três dias depois de total romance, eis a pergunta: Cáh, por que você está na cadeira de rodas, foi acidente?
Respondi-lhe: Não! Tenho paralisia cerebral, que afetou minha coordenação motora.
Pronto! Fiquei solteira novamente. Só essa palavra bastou para que ele se assustasse.
Se você cruzar com alguma pessoa com PC por aí, não fuja, pois, mesmo nos casos mais complicados, é possível manter-se a comunicação. Somos PCs e não ETs .
Informe-se, mais, sobre os tipos de PCs, acessando o site do Centro de reabilitação Sarah Kubitscheck.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Vale quanto pesa?


Após três anos usando cadeira de rodas, depois de um mês de treinamento no Centro Internacional de Reabilitação Sarah Kubitschek, houve a necessidade de troca da cadeira.
Até então,tocar (empurrar) a cadeira era uma árdua tarefa para meus braçinhos tão femininos e “fracolinos”, acompanhados da minha notável falta de habilidade na coordenação motora. Nos treinamentos, saí-me bem. Então resolvi pôr em prática as orientações, adaptações em casa e afins, inclusive a nova cadeira, com material mais leve, para eu, finalmente, alcançar meu principal objetivo, que é ir e vir, sem precisar de auxílio. Direito básico, não?
É necessário entender, porém, que, para nós, a compra de uma cadeira de rodas não é simplesmente olhar para ela, gostar dela e levá-la. Com efeito, cada pessoa  tem tamanho  e peso diferentes, razão por que as medidas são específicas e adequadas a cada um. Não podemos nem devemos adquirir uma cadeira fabricada em séries, pois isso pode causar graves lesões posturais e até piorar o quadro da pessoa com deficiência. Como muitos pensam, não é porque somos deficientes que somos feitos em uma única forma. O ato de comprarmos uma cadeira é como o de comprarmos uma roupa, tem que estar ajustada ao nosso corpo e nos cair bem.
 Ao começar a pesquisa de modelos e preços, cheguei à conclusão de que as fábricas nacionais estão anos luz a oferecer-nos a qualidade tecnológica ,  conforto, segurança e principalmente o que eu estava procurando, que era uma cadeira mais leve. Essas qualidades encontrei somente nas cadeiras importadas.
Enquanto a minha pesa 13 quilos, as que estou olhando pesam de 5 a 6 quilos, sem falar no sonho de consumo de qualquer cadeirante, que é a Panthera, fabricada na Suécia, que pesa 2 quilos, com dinâmica perfeita, produzida com fibra de carbono.
É aí que a realidade do bolso de nós brasileirinhos cadeirantinhos pesa mais que o sonho do conforto e da independência, pois esse sonho custa a bagatela de R$16.000,00.
 Constatando essa realidade que, por hora, me impede de adquirir essa possibilidade de facilitar, um pouco mais, minha vida, vem a pergunta: Por que o governo ainda não reduziu ou isentou os impostos sobre equipamentos que são de essencial importância  para melhorar a qualidade de vida daqueles que travam uma luta diária, no simples ato de sair de casa, pela falta de acessibilidade, pelo descaso de anos, pela exclusão que ainda vige em muitos aspectos?
Seria uma maneira justa de demonstrarem que absorveram realmente  um dos princípios básicos para uma verdadeira inclusão o de que  somos consumidores como qualquer outra pessoa, também contribuímos com o crescimento da economia desse país e, por isso precisamos ter nossos direitos básicos de cidadãos respeitados e a garantia de acesso a esses equipamentos e a tudo que nos torne parte presente e atuante na sociedade, sem sermos explorados. Então vamos lá,lutar por mais essa mudança.

domingo, 8 de maio de 2011

Os frutos da boa árvore

Hoje é Dia das Mães, mas minha homenagem será para o homem que, em muitos momentos, foi homem e mulher da casa e da família. E tenho certeza de que minha avó, como representante da figura materna de toda a nossa família, também irá concordar com que todo esse dia seja voltado para homenagem a ele, meu avô, que nos deixou no dia 2 de maio, abrindo uma fenda de saudade em nossos corações.
Como já disse várias vezes, ser deficiente, em minha época, já é uma batalha imensa, árdua, contra o preconceito e a favor da inclusão, a qual é quase invisível e impossível... Multiplique todas essas dificuldades  50 anos atrás. Difícil, não? NÃO! Não para ele, seu João Mancini, que teve meu tio Ronaldo, que nasceu sem um dos braços (que, como muitos de sua geração, foi vítima da Talidomida). Mas isto não o impediu de ser o homem bem-sucedido que é... Graças à sabedoria de meu avô, que  foi além do entendimento humano, que serviu, também,  de alicerce e inspiração aos meus pais para minha criação.
Por esses motivos, compartilho com vocês  a homenagem que fiz a ele.
 Os homens vêm à terra para deixar sua parcela de contribuição na história da humanidade, mas  são poucos aqueles que deixam registrada sua história  de forma visceral, onde suas realizações  serão contadas sempre com orgulho.
Quero falar de amor, quero falar de João Mancini! Meu avô tão querido, homem de poucas palavras, porém de atitudes nobres, corretas, de pura bondade e sensatez. Sacrificava sua própria vontade para ver as pessoas a sua volta bem e felizes. Semeador incondicional (no sentido mais puro da palavra) da paz e da harmonia.
Em momentos particulares com a família, nos almoços dominicais, enquanto descascava as laranjas para nós, tirava, de nós, gargalhadas com suas piadinhas ingênuas (já muito conhecidas). Mas, pela maneira com que nos contava, tornavam-se novas e  engraçadas...
Homem honrável, que soube dar veracidade à frase: “Árvores boas dão bons frutos”, frutos maravilhosos, que trilham os caminhos ensinados por ele; somos todos cúmplices dessa verdade a cada dia.
Homem de família, que deixou de lado os dogmas e estigmas de seu tempo, de que função de homem era somente colocar dinheiro dentro de casa, dedicou-se, intensamente, ao seu trabalho de administrador, por mais de 25 anos, numa empresa multinacional; e a igreja São José, onde foi ministro por longos anos. Também, no funcionamento e andamento do lar, sabia tudo, dividia com sua amada tarefas particulares e consideradas atribuições somente femininas. Marcava os finais de tarde de minha infância com o cheirinho do virado de feijão e polenta frita, que ele adorava preparar para mim; e sempre vinha com uma frase que jamais se irá apagar de minha memória: “Hoje tem polenta frita, fia, vamos comer, hein”?
Homem culto, todas as manhãs, com o auxílio de sua inseparável lupa, por conta de sua baixa visão, vítima da maldosa e implacável diabetes, lia o jornal “de cabo a rabo”, como dizia muitas vezes, e ligava para nos informar de algo que julgava ser importante para nós.
Homem fiel e leal a sua amada, Dirce Mancini, cumpriu, à risca, tudo que prometeu no altar, 53 anos atrás; amou, respeitou, dedicou cada minuto de sua vida a ela com cuidado e devoção, um amor que  foi, é e será exemplo e referência para minha vida. E sei que também o foi para muitas pessoas que testemunharam essa convivência de mútuo respeito.
Deixou-nos o exemplo verdadeiro do que é ter ética, humildade, fidelidade, lealdade, honradez. João Mancini foi sinônimo de retidão de caráter!
João Mancini morreu de infarto... O amor que ele cultivou em seu coração era tão grande, que seu peito suportou, por 76 anos, até que não mais aguentou e morreu de amor e com amor.
Em nome de sua sempre e única amada Dirce Mancini, seus filhos Ronaldo e Marcelo Mancini, suas netas Carolina e Natália Mancini, suas noras Vera e Valeria Mancini, agradecemos a Deus, por permitir-nos ser frutos e cúmplices dessa árvore, dessa trajetória de vida.
O amor nunca morre... até o nosso reencontro,(tivemos, em oração, a resposta de que, por meio de tuas provações, terás um lugar privilegiado nos céus).
Até lá, “ Seu João Tubiba.”
Nunca o esquecerei.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A comédia repugnante da MTV Brasil

Em todos os lugares onde falo sobre inclusão, sempre digo que a mídia é e será a maior colaboradora no trabalho pela inserção da pessoa com deficiência na sociedade, pois ela tem o poder de difundir e informar  algo que ainda carrega muitos estigmas e preconceitos.
O que é decepcionante, principalmente para mim, enquanto estudante de jornalismo, é ver a mídia usando tamanha força e poder de opinião de forma disfuncional e contrária a todo princípio ético, de respeito ao ser humano e suas individualidades e diferenças. Isto foi o que pude constatar, quando recebi um vídeo em uma de minhas páginas de rede social.
Trata-se do quadro (que é uma paródia ao programa do SBT Casa dos artistas) “Casa dos Autistas’, no programa Comédia MTV , que foi exibido no dia 22 de março e agora está circulando com grande repercussão e, graças a Deus, repercussão negativa. Feito por uma escória de “humoristas” que usam desse lado obscuro e aproveitador do “humor", para fazer deboche, demonstrando toda uma falta de talento e criatividade da parte desses “atores”
É um vídeo ofensivo, com um requinte de mal gosto, repugnante! Totalmente avesso ao que muitos grupos estão fazendo, que é  buscar o direito de igualdade perante a lei, respeito às diferenças, à inclusão social.
A indignação está tomando conta de grande parte da sociedade, porquanto o programa humilha as famílias, os profissionais, as pessoas ligadas à causa do Autismo e a nós, que, apesar de leigos no assunto e de pouco conviver com as particularidades do autismo, nos sentimos ultrajados com a propagação do preconceito  dos mais vis, em pleno auge da luta pela inserção da pessoa com deficiencia na sociedade,  a falta de respeito , de cidadania, reforçando o estigma de que os deficientes representam incapacidade,que são seres desajeitados,quando sabemos que isto é uma inverdade absoluta.
Wilson de Luces, pai de uma criança com autismo e grande colaborador na luta para a inclusão do deficiente na sociedade, considera o programa uma demonstração de falta de inteligência. “A MTV nos demonstra, mais uma vez, que inteligência não é o seu forte. Não assisto a ela, porém chegou-me um vídeo postado no You Tube - Comédia MTV - "Casa dos Autistas". A julgar pelo nome, deveria ser algo engraçado, mas não o é. "O preconceito não tem graça", disse Henfil, saudoso humorista que acalmou nossas almas durante a intolerância da ditadura. E agora?! A ditadura da perfeição? O que seria a perfeição? Fiquei triste! Muito triste mesmo! Foi isto o que conseguiram criar, para fazer as pessoas rirem? Que tristeza, jovens! A cada cena, pensei em meu filho de 5 anos, que bravamente resiste à pressão de tratamentos multidisciplinares e a esta inclusão escolar a que o submetemos 8 horas por dia. Pensei, também, em minha esposa e suas noites mal dormidas e choradas. No mínimo, foi um desastre. Lamento ter que escrever sobre isto, em pleno século XXI.”
Não sou contra informar sobre a deficiência, usando o humor. Porém informar esse assunto é esclarecer, desmistificar e debater os fantasmas e preconceitos que rondam acerca de qualquer deficiência. E, usar o humor para isto, significa mostrar a maneira leve de como encaramos a vida,  sempre prontos a enfrentar qualquer dificuldade, sem perder a alegria, a naturalidade e a capacidade de superar as mais adversas situações.
Aguardemos, portanto, que esses ”humoristas” tenham ciência da responsabilidade que carregam como formadores de opinião, principalmente pelos jovens, que são o público alvo dessa emissora e que estão vulneráveis a esse tipo de atitudes, porquanto formando sua personalidade. Que esses mesmos “humoristas” e toda a equipe da emissora, responsáveis pelo mencionado quadro, tenham a honradez de se retratar publicamente de maneira mais convincente.
E espero que a mídia continue cumprindo seu papel importantíssimo na luta pela inclusão do deficiente na sociedade, não importando a maneira com que essa mensagem seja passada para a sociedade ( drama, humor...), desde que seja de maneira responsável, ética e esclarecedora.
Isto é o que entendo como a verdadeira liberdade de expressão!

Segue abaixo o link do abaixo-assinado.

sábado, 16 de abril de 2011

Feira internacional de reabilitação

Reatech, Feira Internacional de reabilitação, foi aberta oficialmente, nesta quinta-feira, 14, e segue até o dia 17 de abril,, com um publico estimado em 45 mil pessoas. Conta com mais de 250 expositores.
O Evento é acompanhado por autoridades políticas, profissionais de setor, entidades, atletas, artistas, que cooperam para a igualdade do ir e vir e trabalham, para que o respeito às diferenças sejam assimilados pela sociedade em geral.
Autoridades, entidades, universitários de Presidente Prudente e região, como o vereador Douglas Kato, estudantes de fisioterapia e profa. Lica, da Unesp, João Luiz ,da Condef-Regente Feijó confirmaram presença no evento.
Com os ótimos resultados, a feira tornou-se internacional e já é realizada em Milão, Índia, Rússia e China.

A feira tem como objetivo, mostrar o que há de mais moderno no mercado de próteses, cadeiras, transportes adaptados, para facilitar e tornar a inclusão prática e acessível.

Confira algumas dessas novidades nas fotos (Victor Klier) 





Click aqui e acompanhe a programação do evento.

domingo, 10 de abril de 2011

Cadeirantes e documentos

-Como assim, você tem documentos?
- Olha, a carteira dela, gentee, ela tem documentos, CPF, RG, TÍTUUULO, nossa!
-Por que eu não teria?
-Ah! Não sei, você é cadeirante! Achei que não precisava.

Por incrível que pareça, passei por essa situação, há duas semanas, na minha sala da Universidade em que estudo.
Uma amiga abriu minha bolsa, pegou minha carteira sem minha autorização e ainda fez este comentário tão ignorante, que chega à beira da maldade (ou do tal de bullying?)
No primeiro momento,fiquei desapontada, por ser uma pessoa de quem gosto bastante e a quem considero muito, por ter tido essa atitude.

Depois, com calma, analisei melhor, discuti o assunto com algumas pessoas, que presenciaram o ocorrido e com o qual não concordaram. Acharam absurdo!

Mas percebi que a surpresa dela, ao ver que eu tenho meus documentos, realmente foi verdadeira e que a ignorância acerca das pessoas com deficiência vai além do que imaginamos, que estamos acostumados a ver por aí, como falta de respeito em vagas reservadas de estacionamentos, desprezo no olhar de muitas pessoas, comentários desagradáveis... Enfim, são tantas situações... Descobrir que existem outras que nem passavam pela nossa imaginação , por alguns minutos, causa-nos desânimo.
Mas não me permito isto. Por mim, pela minha família , amigos e por todos aqueles que acreditam em mim.
Quanto mais mergulho no mundo dos “normais”, imponho minha presença, mais contribuo (junto com outros tantos que fazem o mesmo,) para que as gerações futuras que tiverem uma deficiência sejam encaradas naturalmente, que tenham que superar, única e exclusivamente, suas limitações físicas.
As abordagens dos assuntos relacionados à deficiência estão-se ampliando, chegando a lugares e a pessoas com efeito positivo.Não obstante a mentalidade de que ser cadeirante é ter uma vida infeliz, de invalidez e piedade, ainda predomina entre muitas pessoas.

Quero deixar, aqui, algumas respostas ao que imagino que outras pessoas tenham passado com amigos, sobre como eu o tenho encarado tudo isto recentemente... Quem sabe, assim, esses amigos entendam que podemos ser AMIGOS, simples assim... uma amizade sem deficiência.

Meninas cadeirantes normalmente não usam sapatos de salto, por vários motivos. No meu caso, não os uso, porque viram meus pés. Por isto, amiga, eu só uso as rasteirinhas, “sem charme,” como você sempre comenta.
Pés de cadeirante (que nunca tenha andado) normalmente são pequenos mesmo. Porque não se exercitou, obviamente ficam menores mesmo. O meu, minha amiga, não vai crescer mais, como você pergunta quase que diariamente. É que estou com 21 anos e já cresci tudo que tinha que crescer.
Não uso roupas com detalhes nas costas, porque estou sempre sentada na cadeira de rodas. Então, em vez de valorizar minha traseira, invisto na dianteira (no decotão), como diz você.
Quando saímos e, em algumas vezes, recebo uma flor ou uma poesia de um menino, e você não, evite o comentário: “Nossa, eu que sou eu, não recebo isso. Fico admirada por alguns meninos fazerem isto com você!” Entenda que muitas pessoas enxergam outras com olhar diferente do seu. Já parou para pensar que alguns podem ter-me visto como uma pessoa, como Camila Mancini? E que a minha cadeira foi só um detalhe, hein?
Por fim, quero-lhe dizer que ser amigo de alguém com deficiência não significa estar pagando um erro das vidas passadas (não é um carma).
Ser amigo significa compartilhar momentos, situações com alguém que escolhemos, por haver afinidade, sentimento positivo, admiração pelo que o outro é e representa para nós.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Influência positiva!

A beleza da vida consiste na diversidade!
Esta frase é muito verdadeira e nos motiva a enfrentar os desafios que a vida nos impõe.
Chateada com a falta de acessibilidade em Brasília, a frustração de não ter visto a maquete no espaço Lúcio Costa, ter impressa na mente, registrar a foto com a minha visão, o ângulo escolhido por mim fazia toda a diferença.
A indignação e, até, de uma certa “raiva” com a ausência de responsabilidade e respeito, da parte dos “homens públicos”, ainda estava latejante em minha mente, quando a tal da diversidade entrou em cena, novamente, e eis que o ânimo entrou em ação.
Recebi uma ligação de uma pessoa que conheci no VI Fórum Municipal da Pessoa com Deficiência, em Presidente Prudente, o professor de Educação Física para Pessoa com Deficiência, da UNESP- Universidade Estadual Paulista, professor Manoel Osmar Seabra Jr, convidando-me, para participar de um bate-papo com os alunos do 4º ano, para discutirmos sobre as possibilidades da pessoa com deficiência, acessibilidade e inclusão.
Participar de reuniões, como essa, conhecer e dividir experiências, discutir projetos com pessoas interessadas em entender, melhor, esse universo, para trabalhar a favor dele, é muito importante, pode parecer um trabalho de formiguinha em meio a tantas dificuldades que envolve a inclusão, mas não é.
Para que minha participação, junto ao professor Seabra e seus alunos, não fique restrita a esse bate-papo, sugiro que comecemos uma campanha, para melhorar a acessibilidade, já na própria instituição, que, para entrar na sala, precisei de ajuda, porque é mais alta que o piso externo.
E temos todos os motivos para solicitar essa mudança de imediato, pois a Universidade tem um aluno cadeirante no mesmo curso. O atleta da Seleção Brasileira de Basquete Sobre rodas, Renato Ciabattari, que merece todo o respeito e cuidado, para não sofrer lesões, como todos os atletas, e a falta de acessibilidade consiste nisto também.
Confesso que, em vários momentos da reunião, segurei a emoção, porque pude sentir, no fundo do meu coração e com muita esperança de que nosso “trabalho de formiguinha’ está chegando ao objetivo, que sairão, daquela sala, profissionais decididos a botarem, em prática, tudo que foi discutido. Desse modo,com sua dedicação, evitarão que as próximas gerações não sofram a exclusão, com a vontade de participar das aulas de educação física e ser dispensados das mesmas, ou ficar olhando-as de longe, (como já aconteceu comigo). Simplesmente, porque os professores não sabiam como agir.
Acabava indo embora para casa, frustrada, ou, por muitas vezes, assistindo a essas aulas de longe, com uma vontade danada de jogar bola com eles...
Mas os dias são outros! Olhemos para o futuro! O que passou serve de exemplo sobre como a sociedade deve enxergar as diferenças e mudar sua forma de pensar e agir.
Disse o sensacional Jairo Marques, chefe de reportagem da Folha, a quem eu admiro muito e em quem me espelho: “O lance é reclamar, bater bumbo, marcar território.”
Agradeço ao professor Seabra, por empenhar-se com tanta verdade e esperança de promover a igualdade do ir e vir, tornando sua existência e influência positivas!

Alunos do 4º ano Ed.Física e prof Seabra(Unesp)

Professor Seabra

quinta-feira, 24 de março de 2011

O Exemplo da capital federal

E eu que achava que Presidente Prudente estava longe de ser um lugar acessível. Andando (ou, melhor, rodando) pelas ruas de Brasília, descobri que está muito pior. Na primeira semana em que lá cheguei, fiz aquele tradicional passeio nos shoppings da cidade, que, apesar das boas promoções, não tem nada de diferente dos demais. Aliás, de todos a que já fui, lá foi o pior em acessibilidade, elevadores abarrotados de pessoas que poderiam usar as escadas rolantes, mas não o fazem. Eu e um casal com uma criança no carrinho estávamos no terceiro andar, ficamos mais de 45 minutos esperando, para entrar. Falamos com o segurança para, quando o elevador parasse ali, que pedisse que alguns saíssem, que fossem pela escada. Mas ele se negou, dizendo que não era função dele. De quem era, então, minha?
Então tá! Foi o que fiz. Quando parou, novamente, no nosso andar, pedi que dessem lugar para mim e o casal com o carrinho de bebê e que existia a escada rolante para eles.
Nas semanas que seguiram, saí para outros lugares, com os parentes que moram lá. Aí, sim, fui conhecer, melhor, Brasília. Acredito que, quando Oscar Niemeyer projetou construções com toda a sua exuberância arquitetônica e suas famosas curvas, acessibilidade foi algo que nem passou por sua mente.
Ok,ok! É justificável, afinal, há 51 anos, deficientes eram, mesmo, “uma lenda”, quase todos ficavam dentro das tocas.
Fomos à exuberante Catedral, mas, para entrar, deparei-me com uma rampa íngreme demais e, para piorar, já quase no final dela, existe uma espécie de trilho de um portão, que é alto e o cadeirante, sozinho, terá que empinar a cadeira (habilidade essa que nem todos possuem), para passar por ele. Até mesmo meu primo, que não tem deficiência física alguma, tropeçou nele.
O curioso é que esses parentes não tinham percebido a falta de acessibilidade na cidade. Saindo da catedral, fomos ao espaço Lúcio Costa, para eu ver a maquete da cidade. Chegando lá, deram-se conta da impossibilidade da entrada de um cadeirante. Assim sendo, a única coisa que meus olhos avistaram foi uma escadaria gigantesca, pois o espaço é subterrâneo e o único acesso é por ela.
Guias rebaixadas são raras, em alguns lugares, existem “rampas,” que, na verdade, deveriam ser chamadas de “remendo de guia” ou “engana trouxa.”
Saí, também, com um grupo de cadeirantes, que estavam no centro de reabilitação. Fomos a um bar próximo dali, mas o caminho era terrível, com calçadas mal conservadas, sem faixa de pedestres, motoristas correndo demais, pois não existia semáforo em nenhum trecho que percorremos. E isto logo ali, próximo de um centro de referência mundial, pela competência e excelência na medicina de reabilitação.
Mas a realidade, hoje, é outra. E muito! Estamos cada vez mais presentes na sociedade, as mudanças se fazem necessárias e com urgência.
Se os principais órgãos da administração dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário federais, que elaboram, votam e aprovam as leis, estão sediados na capital do país, um local com um défict grave de acessibilidade, os que aprovam as leis não as fazem valer no ambiente em que vivem, todavia mantêm seus salários. O que esperar no restante do país?
A solução é sairmos, mesmo, de dentro de casa e exigir o cumprimento da lei. Afinal, se cumprimos nossos deveres, podemos, sim, exigir nossos direitos.
Em nosso caso: Esperar sentados, sim, mas calados, nunca mais!!!!







quinta-feira, 10 de março de 2011

Medicina de excelência e gratuita é possível!

Olá pessoal,ausentei-me por um tempo, pois me estava preparando para uma internação, por um período considerável (de 31/01 a 01/03/2011), em Brasília.
A experiência foi maravilhosa e vou compartilhá-la com vocês em alguns textos, o que não será possível num só.
Peço-lhes desculpas pela minha ausência e, desde já, agradeço aos leitores pela sua compreensão.

CENTRO INTERNACIONAL DE NEUROCIÊNCIAS E REABILITAÇÃO
“ Esse espaço de concreto, aço e vidro existe para qualquer ser humano, rico ou pobre, ser atendido com dignidade e competência, de modo rigorosamente gratuito e igualitário. Nenhum serviço que aqui se realiza, pode ser cobrado.
Caso você perceba a mínima tentativa de violação desse princípio fundamental, saiba que esse espaço de entrega e de amor ao próximo terá sido corrompido. Logo, não hesite, proteste!
Não permita a violação do seu direito de cidadania.Todos os que aqui trabalham, como verdadeiros servidores públicos, devem retornar a você, em serviços qualificados, o imposto que você paga como cidadão, independente de sua condição social ou econômica.
Este é o princípio maior dessa instituição.”

Estas foram as primeiras palavras que li, ao entrar na sala de atendimento da Rede Sarah- Lago Norte, achei interessante, palavras que nos proporcionam uma segurança, principalmente para quem está chegando pela primeira vez.

Vou copiar, aqui, a definição do que é a Rede Sarah:
“Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação é constituída por nove unidades hospitalares, localizadas em Brasília (DF), com um hospital e um Centro Internacional de Neurociências e Reabilitação, Salvador (BA), São Luís (MA), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE) e Rio de Janeiro (RJ), Macapá (AP) e Belém (PA).
Cada hospital da Rede representa um espaço para reprodução e aperfeiçoamento dos princípios, conceitos e técnicas consolidados, ao longo do tempo, pelo SARAH-Brasília.Os conceitos agregados e aplicados, no cotidiano, pelos profissionais que atuam aqui transformaram o SARAH em centro de referência nacional e internacional.
Os hospitais da Rede caracterizam-se por uma cuidadosa integração de sua concepção arquitetônica aos princípios de organização do trabalho e aos diferentes programas de reabilitação, definidos conforme os indicadores epidemiológicos da região em que cada unidade está inserida. Dessa integração, resultam, por exemplo, os amplos espaços dos hospitais SARAH, com seus solários e jardins, buscando, sempre, a humanização do ambiente hospitalar e as enfermarias coletivas, com o sistema de "assistência progressiva", com aproveitamento ótimo dos recursos disponíveis. Este sistema, pela primeira vez implantado no Brasil, data das origens do Projeto, caracterizando-se pela possibilidade de manter o paciente em locais de maior ou menor concentração de recursos humanos e materiais. Surgiu, desse conceito, a criação do "Primeiro Estágio" onde permanecem os doentes que necessitam de cuidados intensivos e frequentes, com a característica de permitir a presença de seus familiares.
Os ambientes foram cuidadosamente preparados para os pacientes das diversas especialidades médicas e terapêuticas, com piscinas, ginásios para fisioterapia, unidades de exames complementares ao diagnóstico, blocos de serviços operacionais, entre vários outros espaços.
Os hospitais da Rede SARAH estão interligados por tecnologias de telecomunicação desde 1997. Diagnósticos de patologias, casos e exames podem ser discutidos conjuntamente, em tempo real, por meio de vídeo-conferência, pelas equipes das diversas unidades, multiplicando o potencial e o conhecimento do staff. Também se podem consultar todos os prontuários, que são eletrônicos (informatizados), de qualquer outra unidade, promovendo o mesmo nível de qualidade de atendimento em toda a Rede e permitindo permanentes interconsultas e programas de atualização.”
Ler estas palavras, ouvir as pessoas que ali passaram meses, reabilitando-se , contarem, com entusiasmo, a respeito da organização, qualidade do Sarah causa curiosidade em saber mais. Mas estar lá, conviver com essa realidade é quase que uma “magia”, a integração das equipes extremamente cuidadosas e dedicadas aos seus pacientes, atenção que vai além das formalidades de normas e princípios de profissionais, atenção voltada ao ser humano como um todo, investimento no potencial, no melhor de cada indivíduo que começa a encontrar uma nova realidade, um verdadeiro processo de readaptar-se e reabilitar-se.
Pensando em tudo que vivi ali, em todos os casos que conheci, pessoas com histórias fantásticas de reabilitação, de afinidade com pessoas que não fazem parte da equipe médica, pesquisadores,enfermeiras... mas também de outros setores que trabalham com o mesmo afinco, como o pessoal do refeitório, segurança, limpeza, tudo funciona de forma extraordinária... perguntar carece:
Se, na Rede Sarah, existe o ousado avanço na medicina pública e funciona perfeitamente, por que os outros hospitais brasileiros não seguem a mesma linha de competência?
Dr. Aloysio Campos da Paz Junior, mostrou que fazer uma medicina de excelência e gratuita é possível! O que falta então?