quarta-feira, 27 de abril de 2011

A comédia repugnante da MTV Brasil

Em todos os lugares onde falo sobre inclusão, sempre digo que a mídia é e será a maior colaboradora no trabalho pela inserção da pessoa com deficiência na sociedade, pois ela tem o poder de difundir e informar  algo que ainda carrega muitos estigmas e preconceitos.
O que é decepcionante, principalmente para mim, enquanto estudante de jornalismo, é ver a mídia usando tamanha força e poder de opinião de forma disfuncional e contrária a todo princípio ético, de respeito ao ser humano e suas individualidades e diferenças. Isto foi o que pude constatar, quando recebi um vídeo em uma de minhas páginas de rede social.
Trata-se do quadro (que é uma paródia ao programa do SBT Casa dos artistas) “Casa dos Autistas’, no programa Comédia MTV , que foi exibido no dia 22 de março e agora está circulando com grande repercussão e, graças a Deus, repercussão negativa. Feito por uma escória de “humoristas” que usam desse lado obscuro e aproveitador do “humor", para fazer deboche, demonstrando toda uma falta de talento e criatividade da parte desses “atores”
É um vídeo ofensivo, com um requinte de mal gosto, repugnante! Totalmente avesso ao que muitos grupos estão fazendo, que é  buscar o direito de igualdade perante a lei, respeito às diferenças, à inclusão social.
A indignação está tomando conta de grande parte da sociedade, porquanto o programa humilha as famílias, os profissionais, as pessoas ligadas à causa do Autismo e a nós, que, apesar de leigos no assunto e de pouco conviver com as particularidades do autismo, nos sentimos ultrajados com a propagação do preconceito  dos mais vis, em pleno auge da luta pela inserção da pessoa com deficiencia na sociedade,  a falta de respeito , de cidadania, reforçando o estigma de que os deficientes representam incapacidade,que são seres desajeitados,quando sabemos que isto é uma inverdade absoluta.
Wilson de Luces, pai de uma criança com autismo e grande colaborador na luta para a inclusão do deficiente na sociedade, considera o programa uma demonstração de falta de inteligência. “A MTV nos demonstra, mais uma vez, que inteligência não é o seu forte. Não assisto a ela, porém chegou-me um vídeo postado no You Tube - Comédia MTV - "Casa dos Autistas". A julgar pelo nome, deveria ser algo engraçado, mas não o é. "O preconceito não tem graça", disse Henfil, saudoso humorista que acalmou nossas almas durante a intolerância da ditadura. E agora?! A ditadura da perfeição? O que seria a perfeição? Fiquei triste! Muito triste mesmo! Foi isto o que conseguiram criar, para fazer as pessoas rirem? Que tristeza, jovens! A cada cena, pensei em meu filho de 5 anos, que bravamente resiste à pressão de tratamentos multidisciplinares e a esta inclusão escolar a que o submetemos 8 horas por dia. Pensei, também, em minha esposa e suas noites mal dormidas e choradas. No mínimo, foi um desastre. Lamento ter que escrever sobre isto, em pleno século XXI.”
Não sou contra informar sobre a deficiência, usando o humor. Porém informar esse assunto é esclarecer, desmistificar e debater os fantasmas e preconceitos que rondam acerca de qualquer deficiência. E, usar o humor para isto, significa mostrar a maneira leve de como encaramos a vida,  sempre prontos a enfrentar qualquer dificuldade, sem perder a alegria, a naturalidade e a capacidade de superar as mais adversas situações.
Aguardemos, portanto, que esses ”humoristas” tenham ciência da responsabilidade que carregam como formadores de opinião, principalmente pelos jovens, que são o público alvo dessa emissora e que estão vulneráveis a esse tipo de atitudes, porquanto formando sua personalidade. Que esses mesmos “humoristas” e toda a equipe da emissora, responsáveis pelo mencionado quadro, tenham a honradez de se retratar publicamente de maneira mais convincente.
E espero que a mídia continue cumprindo seu papel importantíssimo na luta pela inclusão do deficiente na sociedade, não importando a maneira com que essa mensagem seja passada para a sociedade ( drama, humor...), desde que seja de maneira responsável, ética e esclarecedora.
Isto é o que entendo como a verdadeira liberdade de expressão!

Segue abaixo o link do abaixo-assinado.

sábado, 16 de abril de 2011

Feira internacional de reabilitação

Reatech, Feira Internacional de reabilitação, foi aberta oficialmente, nesta quinta-feira, 14, e segue até o dia 17 de abril,, com um publico estimado em 45 mil pessoas. Conta com mais de 250 expositores.
O Evento é acompanhado por autoridades políticas, profissionais de setor, entidades, atletas, artistas, que cooperam para a igualdade do ir e vir e trabalham, para que o respeito às diferenças sejam assimilados pela sociedade em geral.
Autoridades, entidades, universitários de Presidente Prudente e região, como o vereador Douglas Kato, estudantes de fisioterapia e profa. Lica, da Unesp, João Luiz ,da Condef-Regente Feijó confirmaram presença no evento.
Com os ótimos resultados, a feira tornou-se internacional e já é realizada em Milão, Índia, Rússia e China.

A feira tem como objetivo, mostrar o que há de mais moderno no mercado de próteses, cadeiras, transportes adaptados, para facilitar e tornar a inclusão prática e acessível.

Confira algumas dessas novidades nas fotos (Victor Klier) 





Click aqui e acompanhe a programação do evento.

domingo, 10 de abril de 2011

Cadeirantes e documentos

-Como assim, você tem documentos?
- Olha, a carteira dela, gentee, ela tem documentos, CPF, RG, TÍTUUULO, nossa!
-Por que eu não teria?
-Ah! Não sei, você é cadeirante! Achei que não precisava.

Por incrível que pareça, passei por essa situação, há duas semanas, na minha sala da Universidade em que estudo.
Uma amiga abriu minha bolsa, pegou minha carteira sem minha autorização e ainda fez este comentário tão ignorante, que chega à beira da maldade (ou do tal de bullying?)
No primeiro momento,fiquei desapontada, por ser uma pessoa de quem gosto bastante e a quem considero muito, por ter tido essa atitude.

Depois, com calma, analisei melhor, discuti o assunto com algumas pessoas, que presenciaram o ocorrido e com o qual não concordaram. Acharam absurdo!

Mas percebi que a surpresa dela, ao ver que eu tenho meus documentos, realmente foi verdadeira e que a ignorância acerca das pessoas com deficiência vai além do que imaginamos, que estamos acostumados a ver por aí, como falta de respeito em vagas reservadas de estacionamentos, desprezo no olhar de muitas pessoas, comentários desagradáveis... Enfim, são tantas situações... Descobrir que existem outras que nem passavam pela nossa imaginação , por alguns minutos, causa-nos desânimo.
Mas não me permito isto. Por mim, pela minha família , amigos e por todos aqueles que acreditam em mim.
Quanto mais mergulho no mundo dos “normais”, imponho minha presença, mais contribuo (junto com outros tantos que fazem o mesmo,) para que as gerações futuras que tiverem uma deficiência sejam encaradas naturalmente, que tenham que superar, única e exclusivamente, suas limitações físicas.
As abordagens dos assuntos relacionados à deficiência estão-se ampliando, chegando a lugares e a pessoas com efeito positivo.Não obstante a mentalidade de que ser cadeirante é ter uma vida infeliz, de invalidez e piedade, ainda predomina entre muitas pessoas.

Quero deixar, aqui, algumas respostas ao que imagino que outras pessoas tenham passado com amigos, sobre como eu o tenho encarado tudo isto recentemente... Quem sabe, assim, esses amigos entendam que podemos ser AMIGOS, simples assim... uma amizade sem deficiência.

Meninas cadeirantes normalmente não usam sapatos de salto, por vários motivos. No meu caso, não os uso, porque viram meus pés. Por isto, amiga, eu só uso as rasteirinhas, “sem charme,” como você sempre comenta.
Pés de cadeirante (que nunca tenha andado) normalmente são pequenos mesmo. Porque não se exercitou, obviamente ficam menores mesmo. O meu, minha amiga, não vai crescer mais, como você pergunta quase que diariamente. É que estou com 21 anos e já cresci tudo que tinha que crescer.
Não uso roupas com detalhes nas costas, porque estou sempre sentada na cadeira de rodas. Então, em vez de valorizar minha traseira, invisto na dianteira (no decotão), como diz você.
Quando saímos e, em algumas vezes, recebo uma flor ou uma poesia de um menino, e você não, evite o comentário: “Nossa, eu que sou eu, não recebo isso. Fico admirada por alguns meninos fazerem isto com você!” Entenda que muitas pessoas enxergam outras com olhar diferente do seu. Já parou para pensar que alguns podem ter-me visto como uma pessoa, como Camila Mancini? E que a minha cadeira foi só um detalhe, hein?
Por fim, quero-lhe dizer que ser amigo de alguém com deficiência não significa estar pagando um erro das vidas passadas (não é um carma).
Ser amigo significa compartilhar momentos, situações com alguém que escolhemos, por haver afinidade, sentimento positivo, admiração pelo que o outro é e representa para nós.