terça-feira, 28 de abril de 2009

A Arte de Saber Viver!

Há momentos em nossas vidas que nos deparamos com exemplos de força, fé, determinação e, principalmente, superação. São características capazes de produzir grande estímulo em outras pessoas que, porventura, estejam passando por situações semelhantes à que será relatada nesta matéria.

É o caso de Mari Sabel, 37, que, no auge de seus 18 anos, então uma menina cheia de planos, quase teve interrompidos os seus sonhos por causa de um grave acidente de automóvel, que a deixou tetraplégica. “De repente, me vi num leito de hospital, sem conseguir movimentar sequer a cabeça. Minha primeira sensação foi a de incapacidade total (acho que quase todos se sentem assim), mas logo me veio uma força, incapaz de decifrar em palavras, que me fez acreditar em dias melhores, em recuperação, em vida pós-trauma”,conta.
Mari relata que, na época, foi um choque para toda a família e amigos que, até então, não tinham qualquer conhecimento ou informação sobre o assunto. As circunstâncias exigiram um longo processo de adaptação, cerceado por diversas duvidas e medos. Enquanto a maioria chorava ou tentava engolir o choro para disfarçar, ela fazia com que as pessoas se sentissem bem e mostrava que estava ali, inerte, mas viva! “Vivi todos os momentos de recuperação, toda dor, angustias, decepções, mas consegui valorizar muito mais os momentos de pequenas melhoras, às quais me apeguei com determinação, com muita vontade de viver. A partir daí, foi continuar com meus planos e sonhos, somente adaptando-os àquela nova condição de vida”, acrescenta.
Das várias histórias vividas por Mari Sabel, todas deixaram marcas importantes em sua vida, mas a que considera uma das mais profundas foi ter conhecido um homem desprovido de preconceito, que rendeu-se aos seus encantos e reaprendeu a viver de forma diferente da convencional, ao lado de uma mulher cadeirante. Em pouco tempo veio o casamento e, logo em seguida, a gravidez, para surpresa dos mal informados, que sempre pensam que deficientes físicos não têm vida sexual, ou mesmo que não podem ter filhos. ”Andava de blusas bem curtas ou rendadas, para mostrar ao mundo que estava gerando uma nova vida. Sempre foi meu orgulho! Aliás, meu não, pois como filha mais velha, foi o primeiro neto da casa. Então, imagine só como era tratado pelos avós, tios, primos e, principalmente, pelos pais”, comenta Mari, orgulhosa e em tom de mamãe coruja.


"Minha familia, meu orgulho"
Mas as surpresas (e boas surpresas) não pararam no nascimento de seu filho. Pensando já ter encontrado todas as formas de superação, Mari descobre o talento para as artes plásticas. “Foi paixão à primeira vista”, exclama. De terapia e passatempo, tornou-se profissão e fonte de renda do casal, trabalhando juntos, ela e o marido. Mari tem os movimentos das mãos limitados, pinta com a ajuda de manguitos (adaptações para as mãos), pois só recuperou parte dos movimentos dos braços. Mesmo assim, isso não a impede de pintar quadros de quase dois metros. Além das telas, também desenvolveu uma linha de artesanato capaz de gerar inveja em qualquer ser humano fisicamente apto. Confira abaixo








Telas







Pintando, me sinto ilimitada; podendo percorrer lugares infinitos, intransponíveis a outros olhos. E posso dizer, com todas as letras, que a arte hoje é a expressão viva da vida que há em mim! “

Não bastasse tantos adjetivos e vitórias, com belos olhos azuis, encantou a nossa já conhecida fotógrafa Kica de Castro, que a convidou para fazer parte de seu casting.
Mari poderia ser mais uma na multidão da diversidade, mas preferiu fazer a diferença, mostrando que tudo é possível.
Como mulher e cadeirante, posso afirmar que a vida não se limita ao que vemos, vai muito mais além. Acima de tudo, ou de qualquer problema físico, a beleza está muito mais dentro do que fora de cada um. Isso depende do transparecer a auto-estima e a honestidade consigo mesma. E se tenho de passar por isso, o farei da melhor forma. E concluo dizendo que, por muitas vezes, só através das dores percebemos a magnitude da vida!”, finaliza.


Para conhecer a galeria de Mari acesse:

segunda-feira, 6 de abril de 2009

"CLICkS" ULTRAPASSAM AS FRONTEIRAS DO PRECONCEITO







Até uns anos atrás, tempo não tão distante, falar sobre deficiência era um assunto capaz de provocar constrangimento; ter defeito físico, necessitar de algum tipo de acessório para se locomover, fosse um par de muletas ou uma cadeira de rodas, significava invalidez, seres descartáveis para a sociedade. Mesmo na atualidade, com os programas de apoio ao deficiente e amplas campanhas de conscientização, ainda existe muito preconceito, discriminação e ignorância em relação aos portadores de necessidades especiais.
Imagine, então, deficientes no mundo da moda! Como pode um deficiente - cadeirante, usuário de muletas ou próteses - ter sensualidade, beleza e charme? Será possível isto numa sociedade preconceituosa e com pensamentos preconcebidos, para quem a beleza e a sensualidade têm um padrão já estabelecido?
Até algum tempo, cogitar essa possibilidade era motivo de piada ou, no mínimo, comentário maldoso. (Já vivenciei situação assim, mas, depois, conto esse fato). Entretanto, para a ousada Kica de Castro, isto não existe. Fotógrafa e publicitária, é profissional de mente aberta, com a fina percepção de enxergar além do que aparenta ser, ela fala sobre beleza e sensualidade do deficiente com propriedade, visto que possui a experiência de quem já trabalhou no mundo da moda com os estereótipos muitas vezes impostos pela sociedade.
Seu currículo inclui, desde o ano 2000, o início de uma carreira com eventos sociais, passando, de 2002 a 2007, a atuar como chefe de fotografia em um Centro de Reabilitação para pessoas com deficiência física. Foi aí, segunda ela, que despertou seu interesse e proximidade com esse mundo. Produzindo fotos científicas para prontuário médico, Kica percebia a inibição e até constrangimento por parte desses pacientes. Sentiu, então, a necessidade de trabalhar a auto-estima dessas pessoas, com a ajuda de uma amiga psicóloga. Iniciou, dessa forma, sua jornada, que considero como um trabalho “de formiguinha”, já que, no Brasil, a trajetória de valorização do portador de necessidades especiais ainda segue a passos lentos. Em outros países, como os europeus, já existem concursos no estilo “a mais bela cadeirante", realizado na Alemanha e na França, uma espécie de “reality show” somente com deficientes .
Foi assim que levou para o estúdio da instituição acessórios, maquiagem; brincava, dizendo que as fotos iriam para as revistas com fotos sensuais e ficariam famosos. Conseguia, dessa forma, que se soltassem e, confiantes nela e em si mesmos, posassem para seus “clics” com mais naturalidade e leveza. A essa prática, Kica deu o nome de fototerapia!
O resultado da persistência e, acima de tudo, sensibilidade, de Kica de Castro chegou até à mídia graças a sua ousadia, responsabilidade e, principalmente, ética. Seu “casting” vem sendo solicitado para campanhas publicitárias e revistas segmentadas. A revista Sentidos (Editora Escala) traz na capa de sua edição 48, três lindas mulheres, sendo duas delas do casting de Kica de Castro: Diolice Barbosa,19, e Daiane Lopes, 27.
O caminho aberto por Kica ajudou Juliana Costa,13, a colocar em prática seu grande ideal de ser modelo. Paraplégica, vítima de bala perdida, sempre almejou as passarelas. Não desistiu desse sonho após o acidente e o viu tornando-se realidade quando foi apresentada a Kica de Castro no programa TV Xuxa, da Rede Globo de Televisão exibido em 30 agosto de 2008. Foi contratada pela fotógrafa para fazer parte de seu casting e hoje segue com seus ensaios fotográficos, sempre acompanhada pela produção do programa TV Xuxa. Confira
http://www.youtube.com/watch?v=I1uGzbz1emM(outubro/2008)
Esse trabalho tomou tamanha proporção que, recentemente, após alguns entendimentos, Kica de Castro se tornou representante oficial, no Brasil, da agência alemã Visable, de Dirk Gelbrecht, com sede em Langelsheim. Essa parceria amplia os horizontes para que moças e rapazes brasileiros portadores de deficiência ingressem no mundo da fotografia profissional no Brasil e exterior. No próximo mês de maio, Kica atravessará o Atlântico, acompanhada de duas modelos de sua agência, que vão se conhecer pessoalmente e realizar seus primeiros ensaios em terras internacionais. Na bagagem, a fotógrafa levará propostas de outros grandes projetos. “Tenho muitas idéias e quero levar muita gente boa e talentosa comigo, pois me realizo quando sei que colaboro para a realização de outras pessoas, autoras de outros projetos; tento fazer parceria, porque acredito no trabalho coletivo, princípio que adoto para acontecer a verdadeira inclusão. É preciso haver união”, afirma Kica, dona de uma simplicidade envolvente.
A modelo Haone Thinar,16, que, por decisão própria e com aval de sua mãe, aos nove anos amputou uma das pernas em função de um câncer, teve seu ensaio fotográfico enviado para a Alemanha. ”Hoje, ela é modelo destaque na Visable, e está fazendo muito sucesso. Estão amando suas fotos”, diz Kica, orgulhosa de sua pupila, levando, para a Europa, a beleza da mulher deficiente brasileira.
Outra “menina dos olhos” de Kica é a apucaranense Daiane Lopes ,27, Vítima de paralisia cerebral por falta de oxigenação na hora do parto, precisa de muletas para se locomover. Engajada, colaborou nas pesquisas para a criação de um dos personagens de história em quadrinhos “Turma da Febeca”, do cartunista carioca Victor Klier, cujos personagens são crianças e adolescentes com algum tipo de deficiência ou patologia. Logo após, conheceu Kica de Castro por meio do amigo Dudé e, em sua melhor fase, mostrou todo o seu potencial em fotos lindas e sensuais. Encara isto com muito profissionalismo e disciplina. Quando Kica a convoca para a sessão de fotos, ela sai do Paraná, toma ônibus, numa viagem de oito horas, e chega na data agendada, mostrando-se determinada ao que se propôs. E não para por ai. Por conta de fotos divulgadas em toda a mídia, Daiane foi vista por Emilia Cretuchi Quartim, presidente da Adefiap (Associação dos Deficientes Físicos de Apucarana), que desenvolve um trabalho de inclusão do deficiente físico no mercado de trabalho e garante acesso a tratamentos gratuitos. Encantada com o sucesso de sua conterrânea, Emilia a convidou para ser representante do Projeto Memorial Apucarana, com parceria junto à Secretaria de Cultura local.
Patrícia Lopes do Nascimento, 24, outra fotografada, participou de desfile numa feira de noivas e também de algumas fotos de moda para lojas de bairro e, ainda, foi promotora (recepção) em eventos de uma empresa multinacional.
Diolice Barbosa, 19, tetraplégica desde os 12 anos, devido a uma cirurgia mal-sucedida, para retirada de um tumor na coluna, reaprendeu a viver. Freqüenta uma instituição que ajuda na sua reabilitação e lá aderiu ao mundo das poses, pois, dona de uma beleza peculiar e um sorriso contagiante, foi convidada a posar numa campanha interna. Foi o seu passaporte para o mundo dos flashes, com ensaios para revistas e sites.
Outro integrante do casting é Eduardo Martins, mais conhecido como Dudé, 36 anos. Com má formação congênita nos membros superiores e inferiores,dono de múltiplos talentos e de carisma incontestável, em 2004 ingressou na Cia Mix Menestréis, dirigida por Deto Montenegro e ficou trabalhando com teatro musical até 2007, apresentando-se no teatro Dias Gomes, em São Paulo, além de apresentações em outras cidades interior afora.
Dudé atualmente trabalha como professor de canto em sua residência. Ele possui um Home Studio, onde faz algumas produções como orientador vocal e, também, atua como vocalista da banda EASY ROCKERS COVER BAND, que tem em seu currículo um show transmitido, ao vivo, pela famosa rádio Kiss FM, de São Paulo.

Conheça o casting



Michael Correia Daiane Lopes Diego Madeira Diolice Giulio e Marcia

Paty

Dudé

Carina
Juliana

Mary




Thiago Cenjor
Ana Tereza


Bom, pessoal, para finalizar, deixo, aqui, um recadinho de Kica de Castro para os leitores de Mistura Fina e para quem é deficiente físico e sonha trilhar o caminho da moda.

“Gostaria de dizer-lhes que meu objetivo é mostrar que ‘beleza’ e ‘deficiência física’ não são duas expressões contraditórias. Que pessoas com esse tipo de problema são felizes e têm os mesmos padrões de vida que as pessoas consideradas normais; e que trabalhar como modelo profissional é possível. Que existe sentido em nos preocuparmos com encontrar o rapaz, a moça, o companheiro ou alma-gêmea. E que não existe razão alguma para nos escondermos do mundo devido a um problema físico. Há muito mais num ser humano do que a perfeição física.”

Contato
kicadecastro@gmail.com
Fone 11- 8131-0154