domingo, 10 de maio de 2009

Laços de família

Hoje, em homenagem ao amor mais sublime, que é único e incomparável: Amor de mãe!
Uma história de solidificação de laços de cumplicidade e principalmente de muita sabedoria, essa é a definição para a família Magalhães Martins! Como protagonistas dona Maria de Lourdes dos Santos Martins, 70, e Eduardo José Magalhães Martins Junior(Dudé, como é conhecido)37 .


Dona Lourdes é uma daquelas mulheres tipicamente brasileiras, simples e lutadora, casada, mãe de três filhas já crescidas, quando é surpreendida por uma gravidez não planejada, porém recebida com muita alegria e expectativa. “Meu filho foi um presente que chegou para todos nós no dia 24 de abril de 1972. Ele foi o que chamamos de “Raspinha do Tacho”. O pai ficou muito entusiasmado na época. “Depois de três meninas, será que o próximo será um garotão?”questionava ele. E, realmente, o garotão chegou! Mas veio um pouquinho diferente”, diz.
Dudé nasceu na maternidade, que, na época, era administrada por um convento. As freiras, de início, se recusaram a mostrá-lo para dona Lourdes, sem saber qual seria sua reação, ao vê-lo pela primeira vez, já que havia nascido com má formação congênita (sem parte dos bracinhos e uma perninha). “Confesso que a primeira reação foi chocante. Algo que tira o chão dos nossos pés, mas ele nunca deixaria de ser meu filho, acontecesse o que fosse”, comenta.
Passada a surpresa inicial, dona Lourdes, além do amor e dedicação natural de toda mãe, ali, naquele momento, rapidamente traçou um objetivo: torná-lo um homem realizado, feliz e que vivesse da forma mais normal possível, dentro de suas limitações físicas.
Eduardo foi crescendo e desenvolvendo-se como qualquer outra criança de sua idade, educado da melhor maneira possível, porém sem privilégios, afinal o casal tinha outras três crianças, pra educar.
Aos quatro anos, apesar de levar a vida como qualquer outra criança, comunicativa e muito levada, precisava de cuidados especiais. Morando no interior da Bahia (Valença), tornava-se difícil. Foi aí que, sem hesitar, a família decidiu mudar-se para São Paulo, onde logo, o tratamento começou. Passou pela primeira das penosas doze cirurgias que teve ao longo da vida, para correção de sua perna e pé, que eram virados 90 graus pra direita. “Uma coisa que eu e seu pai sempre admiramos é a forma com que Dudé sempre encarou as coisas. Muitas vezes me perguntei se, um dia, meu filho já sentiu medo na vida. Claro que ele já sentiu, mas sempre soube disfarçar bem. Lembro-me de um dia, quando ele tinha uns nove anos: não parava de chorar, por causa da dor que sentia, em virtude da última cirurgia que havia feito. Eu já não sabia mais o que fazer: tinha dado medicamento pra ele, mas parecia que a dor não cedia. Nesse dia, tranquei-me no meu quarto, desesperada, rezando, para que aquele sofrimento todo passasse, que não era justo uma criança de nove anos passar por aquilo. Alguns minutos depois, eu me lembro de ouvi-lo brincando com as suas irmãs. Cheguei e perguntei se a dor havia passado com o remédio e ele me disse, rindo: “Não passou, mãe. Só que, se eu pensar nessa dor, ela não vai passar. Então não vou pensar nela. Aí a dor passa”. Eu acho que este é o segredo do Dudé: ele nunca pensa na dor em si, mas no que pode ser feito, para que a dor passe”, lembra emocionada!


Os quatro irmãos

Chegando à adolescência, passado o período das cirurgias, recebeu a primeira alta do centro de reabilitação, onde ele se trata até hoje, que outra batalha começou, terminar os estudos, onde havia cursado da primeira à quarta série, dentro do próprio centro. A partir da quinta série, foi para uma escola comum. Aí as perseguições eram constantes, não só dos alunos. Houve muita implicância por parte de pais de alunos e muita omissão de professores e diretoria, também. “Trocávamos de escola a todo o momento, em virtude disso. Tudo, porque o Dudé era só um pouquinho diferente da maioria. Numa ocasião, ele se meteu numa briga na escola, por haverem mexido com sua deficiência. O resultado foi um olho roxo e a boca sangrando. Quando ele disse, chorando, que não voltaria mais para aquela escola, seu pai o colocou de castigo e disse que ele voltaria para lá, no dia seguinte, de cabeça erguida. Eu, como mãe, fiquei indignada com isso, mas meu marido justificou a atitude, dizendo que, se ele baixasse a cabeça para aquela situação, seria um covarde para o resto da vida”, relata

“tudo que conquistei, aprendi batalhar, lutar e
correr atrás daquilo que é meu por direito, foi
graças a esse casal abençoado por Deus"

Quando voltou para a escola, não demorou em a diretoria entrar em contato conosco, dizendo que ele havia tentado jogar uma lata de tinta na cabeça de um dos moleques que o insultaram. “O que era interessante nos colégios por onde passou era a eficiência da diretoria em repreendê-lo, quando fazia algo errado; mas negligente, quando ele era atacado verbal e fisicamente. Eu não digo que meu filho seja um anjo (quem o conhece sabe que o figura não é nenhum santinho), mas diretoria de colégio algum tinha o cuidado de defendê-lo, quando alguém o agredia. Talvez seja por causa disso que o Dudé saiba defender-se muito bem sozinho, em virtude da omissão alheia”, acrescenta.

Mesmo com todas essas dificuldades, chegou à faculdade. Formou-se em direito, com especialização na área penal. Mas, como já atuava como músico, foi o que ele decidiu continuar. Essa paixão, que já vem de família, começou, quando seu pai disponibilizava o aparelho de som nos finais de semana, para que ouvissem música o dia todo. Ouviam de Sá e Guarabira a Pink Floyd. Aos 13 anos, assistindo a um show da banda de rock, Queen, ouvindo Freddie Mercury cantando, Love of my life, determinou: “É isso que quero fazer da minha vida!”
A partir daí, correu atrás de seu sonho, sem pensar em obstáculos. Passou a estudar música, participar de bandas e festivais estudantis. Aos 16 anos, tocou, profissionalmente, numa banda de blues. Com 17 anos, começou a cantar profissionalmente, na noite paulistana, passando por várias bandas. Fez curso de canto com Nando Fernandes, um dos melhores professores de São Paulo, tornou-se um dos melhores alunos. Em 1998, iniciou, como professor de canto e logo começou a dar aulas de musicoterapia para adolescentes com deficiência física, em um centro de reabilitação, além das aulas em conservatórios e de trabalhar como técnico de som em estúdios de gravação e vendedor de instrumentos musicais. Mesmo com todas essas atividades, Dudé continuou a participar de bandas, fazendo shows na capital e interior de São Paulo.Em 2004, ingressou na Cia Mix Menestréis, dirigida por Deto Montenegro, e ficou trabalhando com teatro musical até 2007, apresentando-se no teatro Dias Gomes, em São Paulo, além de apresentações em outras cidades interior afora.

Cia Mix Menestréis

Em 2006, Dudé fez uma aparição no programa Raul Gil, participando do quadro "Quem Sabe Canta, quem não sabe Dança",quando este ainda era apresentado na TV Record.
Em 2008, começou a trabalhar como modelo fotográfico para o casting da fotógrafa Kica de Castro. Em novembro do mesmo ano, apareceu numa matéria sobre a agência da mesma, no programa SBT Repórter.
Dudé, atualmente, trabalha como professor de canto em sua residência e possui um Home Studio, onde faz algumas produções como orientador vocal. E, atualmente, trabalha como vocalista da banda EASY ROCKERS COVER BAND(que apresentarei em outra matéria. Aguardem!)que tem, em seu currículo, um show transmitido ao vivo pela famosa rádio Kiss FM de São Paulo.



Farra de final de show

Essa escalada de sucesso ele atribui a dona Lourdes, a quem considera uma guerreira, pela forma desprendida, sábia e à frente do seu tempo, onde o criou, numa época em que ser deficiente era algo muito mais estigmatizado, não havia campanhas nem projetos de inclusão(como hoje).
Concluo a matéria de hoje com um recadinho aos leitores do Mistura Fina dessa mulher merecedora de todas as homenagens.

“Só posso finalizar, dizendo a todas as mães com filhos especiais que, assim como eu,vocês são mulheres privilegiadas, pois somos aquelas que educamos, cuidamos e amamos essas pessoas que são guerreiras por natureza e que possuem o dom de amar a vida de forma intensa, (como meu filho, que é uma fortaleza). Aliás, o Eduardo vai além disso: ele é meu porto seguro”.






Conheça mais sobre Dudé:

17 comentários:

  1. Se sou hoje uma fortaleza, é porque tive o melhor concreto do mundo para construí-la: meus pais.
    Obrigado por essa linda homenagem à aquela que é a mulher mais importante pra mim.

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  2. Somente quem tem deficiência é que sabe a dificuldade em enfrenta os absurdos que acontece todos os dias. Realmente as mães que tem filhos com deficiência são escolhidas, tem uma missão bonita,e conseguem demostar que superação não é apenas dos filhos mais delas também. Superam o medo, a angústia, enfrentam de cabeça erguida o mundo...Essas mães realmente merecem nossos agradescimentos e nossos aplausos.
    Bjs
    (Maria)

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  3. Linda homenagem!parabéns a Maria de Lurdes, mãe coragem.E parabéns,Dudé por ser tão determinado,e cheio de garra...tb não podia ser diferente né,teve alicerce forte que o sustentou.Camila, dez,nota dez pela escolha da matéria.
    bjocas e upasss

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  4. nossa to emocionada ate agora ainda mais por conhecer essas duas pessoas maravilhosas dona lurdes uma pessoa maravilhosa simples,educada mto fofa por ter pessoas como a senhora que o dudé é essa pessoa iluminada que cativa a todos a sua volta, bom sou suspeita pra falar pq o dudé pra mim é amigo pra tds as hrs é uma liçao de vida pra mim.adorei a matéria linda homenagem parabens a d lurdes merece adoro vcs viuuuu beijaoo

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  5. Marabel Nunes Pires10 de maio de 2009 às 15:54

    Dudé parabéns a sua querida mãe Dona LURDES , que com td certeza fez td para agradar aos seus filhos e deu certo , tem uma linda familia , é tb a jornalista CAMILA MANCINI que sempre está destacando pessoas lindas , em tds os sentidos .

    Estou muito feliz por está homenagem , tb lembramos de tds as mães bjs !!!!!!!!!!!!!

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  6. - Alô.
    - Dona Lourdes, sou eu a Kica.
    - Oiii Kica, como tão as coisas?
    - IIIIHHHH Dona Lourdes, nem te conto ...
    Assim é quase sempre quando eu ligo na casa do Dudé. Falo pelo menos uns 15 minutos antes de pedir para falar com o Dudé. Tenho o privilégio de conhecer essa família inteira. Amo todos. Dona Lourdes e uma pessoa maravilhosa, dona de um senso de humor maravilhoso... Sem contar que cozinha muito bem. O que acho bacana é que a família sempre vai nos shows do Dudé, são fãs de carteirinha desse cantor incrível, eu sempre estou nos shows, registrando tudinho. Também admiro o senso de justiça dos pais de Dudé, sabem bem a hora de puxar as orelhas desse "capetinha" (rsrsrs).
    Beijão na família Magalhães Martins.
    Camila, mais uma vez, o texto ficou muito bom. AAAAAAAAAmmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeeiiiiiii.

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  7. Toda a vez que recebo e-mail da Kica, sei que é coisa boa. Amei conhecer o trabalho de Camila Mancini. Com o trabalho dessa futura jornalísta podemos conhecer o trabalho de muitos outros talentos. Estarei no próximo show da banda de Dudé.

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  8. Exemplo!
    Assim define essa mulher, não só pela garra e determinação, que sempre age para defender seu filho.
    Mais também pela doçura que ela foi capaz de transmitir nas dificuldades da vida.
    Exemplo!
    Simplesmente pelo fato de existir Dona Lurdes...
    História que emociona!
    E que faz com que a nossa história mude com o (Dudé)
    PARABÉNS PELO DIAS DAS MÃES!!!!!!!

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  9. Feliz dias das mães, todos os dias.

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  10. Tve o prazer de ser apresentado a dona lourdes quando fiz aulas com o dudé [que ainda pretendo voltar quando ajustar meus horários \o/]

    parabéns pela matéria

    beijão Camila :)

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  11. Os três últimos textos escritos pela futura profissional de comunicação, a jovem Camila Mancini, deixa claro sua evolução rápida, se expressando cada vez melhor, com mais rapidez e desenvoltura.

    Camila escreve com paixão e seduz, com suas palavras, a todos que conhecem seu trabalho.

    O modo como escreve sobre as pessoas e sobre siuações específicas definem sua personalidade cristalina, carinhosa e engajada.

    Parabéns a todos que foram homenageados pela arte nas linhas escritas de Camila Mancini e parabéns para a própria!

    Vida longa a esta Mistura Fina!

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  12. Magnifica a trajetória de vitórias sucessivas de Dudé que mostra que o talento está acima de qualquer deficiencia e PARABÉNS para dona Lourdes, pelo que vi aqui. Não os conheço, mas Camila Mancini soube descrever tão bem essas as conquistas, que deu para imaginar cada pedacinho da história vivida pela familia Magalhães Martins!
    Emocionante
    Parabéns

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  13. Estou com lágrimas nos olhos. Que exemplo de determinação e força de vontade. Parabéns.

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  14. Que coisa linda de se ler!
    É maravilhoso saber que existem pessoas como Dna. Lourdes e Dudé, que não deixam se dominar pelos problemas.
    Dna. Lourdes a sra é um exemplo de amor, inteligência, de domínio emocional, caráter e dignidade.
    Nem encontro palavras para descreve-la.
    Mulher abençoada! é isso!

    Beijo e espero ver um show do Dudé

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  15. Muito lindo tudo por aqui...
    Linda historia, linda a trejetória da familia!
    E linda a dona desse blog :)
    Com mta personalidade, está de parabéns florzinha :))

    Beijão

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  16. Tudo muito lindo...

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  17. Em primeiro lugar, parabenizo a gatinha jornalista, muito linda e inteligente, dá gosto de ler tudo o que ela escreve.
    E em segundo, a mamae maravilhosa Dona Lourdes por ter colocado no mundo um ser humano especial e tê_lo criado com amor e determinaçao, ele o Dudé é o que é no dia de hoje graças a essa familia maravilhosa e os cuidados de uma mae tao zelosa e atenciosa para um filho especial.
    Que Deus abençoe voce mamae em todos os dias de sua vida!
    Beijos
    Marie.

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