quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A caminho de uma nova sociedade


Foi extraordinário o número de jovens na 1ª Conferência Municipal da Juventude de Presidente Prudente, no último 19 de agosto. Aproximadamente 580 jovens cidadãos, interessados em mudanças, em roformas políticas, dispostos a “gritar e a lutar”, para que seus objetivos e necessidades sejam ouvidos e atendidos.
Impressionante, também, a organização, mantendo esses jovens sempre ativos e envolvidos o tempo todo, em cada passo do evento.O triste é ver que, em meio a tantos jovens, não havia ninguém, além de mim, com deficiência.
Segundo o IBGE, Presidente Prudente tem, aproximadamente, 20.386 pessoas com deficiência. Onde estão? Por que não participaram? Falta de interesse da parte deles?
Acredito que não, pois tantos são os atropelos impostos pela falta de acessibilidade, transporte, entre outras situações vividas, que são extremamente injustas. Acabam-se deixando vencer pelo muro da exclusão, que separa as pessoas e distorce seus mais nobres potenciais.
Consegui perceber que a inclusão da Pessoa com Deficiência sequer passava nos planos de discussão, quando, em um determinado momento da Conferência, foi realizada uma divisão de grupos, para discutirem assuntos importantes, citando seus problemas e apontando soluções, para serem trabalhados posteriormente. Meu grupo tratou de Educação e trabalho. Sugeri, evidentemente, a inclusão real nas salas de aula, não simplesmente “jogar” a pessoa no ambiente escolar, e não ser trabalhado da maneira correta, aproveitando o potencial de cada um, da melhor maneira. Acontece que senti falta de apoio e interesse maior das pessoas por esse assunto.
Voltando à reunião geral, onde foram lidas as sugestões de cada grupo e, após, foi realizada a candidatura de delegados para as próximas Conferências e para trabalharem as necessidades dos jovens. Resolvi candidatar-me. Foram 35 candidatos para 15 vagas e, para minha surpresa, fui eleita por unanimidade. O contentamento tomou conta de mim, percebi e senti, mais uma vez, que só saindo das nossas “tocas”, mostrando a cara e enfrentando essa realidade , é que conseguiremos algo melhor: mudar o pensamento das pessoas mal informadas e mostrar que deficiência não é sinônimo de incapacidade.
Não dá para falar em uma sociedade mais justa, esquecendo aquilo que achamos ser uma minoria sem expressão. Pessoas com deficiência não são simples leis postas num papel, são pessoas, indivíduos com opiniões e realidades diversas, que têm muito que contribuir e expressar.
Agora é hora de botar em prática todo o pensamento e discurso de aceitação do diferente. Isto,porque o mundo é realmente “rico” em diversidade de pessoas. Incluir é fazer interagir, e não figurar”. É acreditar no potencial humano, sem julgá-lo pela sua aparência ou por estereótipos já traçados.Incluir é dar oportunidade, respeitando e aceitando as dificuldades e particularidades de cada um. É saber encaixar as ações e pensamentos na prática. Incluir é pensar no coletivo. E o mais difícil, para fazer valer a real inclusão, é deixar o próprio ego de lado e olhar para o outro, sem uma opinião já pré-determinada. Quando isso cair por terra, aí, sim, todos os tipos de inclusão serão colocados em prática...  Incluir é saber ouvir, saber delegar, saber trabalhar toda e qualquer oportunidade de demonstração de qualquer tipo de talento que surgir, por mais “frágil ou incapaz” que alguém pareça ser, seja por condições estéticas, físicas ou intelectuais.
O que tem que estar sempre em mente é que cada ser humano é realmente uma caixinha de surpresas, que sempre pode dar bons resultados, independente de quem seja essa ideia.
É importante, ainda, repararmos na diferença de inclusão verdadeira ou de complacente e piedade. Com efeito, incluir é sabermos exigir e extrair o melhor que cada um pode dar, apesar de suas limitações...
Por isto, acredito em que a 1ª Conferência sobre Políticas Públicas da Juventude de Presidente Prudente realmente será um divisor de águas no cenário público da cidade, pois falará de inclusão do jovem em todos os seus aspectos e amplitudes.
 Marcos Vinha(vice´prefeito), Tupã (Prefeito)Juliano  Borges (Assessoria de Juventude/Gabinete do Prefeito)
Ed Thomas (Deputado) e Selma Alves de Freitas Martins (Secretaria Municipal de Educação)
 Dr. Luiz Antonio Miguel Ferreira (Promotor da Infância e Juventude)

 
 Dra. Marisa Feffermann (Diretora do Institudo Saúde da Secretária do Estado da Saúde)
 Tupã (Prefeito)


Pessoas  interessantes e interessadas em mudanças reais.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Luzes acesas e... mão na roda!

Sou um ser em metamorfose, que dá asas à imaginação, que me deixa, por longos momentos, com ausência do mundo. Crio, fantasio, produzo, dirijo, acendendo as luzes do palco e entro em cena...
Foi pensando em converter estas palavras em ações que resolvi,  mais uma vez, entrar em cena, dessa vez, numa situação diferente. Resolvi  inscrever-me  na oficica "O Fazer Cinematográfico’’, ministrada pelo ator e cineasta Vicentini Gomez, de 25 a 31 de julho, no Centro Cultural Matarazzo de Presidente Prudente –SP.
Quis experimentar  minhas aptidões no mundo cinematográfico, já que é um sonho de criança, viver a arte;  descobrir onde me sairia melhor, conhecer a criação, produção, direção desse maravilhoso mundo de fantasia, ficção, realidade...
Chegando lá, senti um frio na barriga. Em meio a 70 pessoas inscritas, eu era a única com deficiência. 
Descobri minhas habilidades e o que a cadeira me impedia de realizar como qualquer pessoa, encontrei dificuldades para alguma atividade, mas compensando em outras, descobrindo até onde posso ir, meus talentos, que independem de uma cadeira de rodas.
Como resultado da oficina, foi produzido o documentário “Visões’’, com a participação dos alunos. O filme mostra as diferentes visões do “amor’’ e da “felicidade’’, com imagens capturadas na cidade e  depoimentos de pessoas de diversos segmentos sociais e culturais de nossa cidade. Dentre elas, dona Eva de Assis dos Santos, catadora de lixo e presidente da Cooperativa dos Trabalhadores de Produtos Recicláveis de Presidente Prudente [Cooperlix], a jornalista Mirian Ribeiro, o músico e professor Luizão(Projeto Camerata), Sebastião José de Oliveira – “Baiano” (engraxate), o Advogado e escritor Henrique Chagas, Leonardo Ferreira – “Léo” (Produtor Cultural / Professor Hip Hop e Grafiteiro)    e, para minha surpresa, também fui convidada pelo diretor, para prestar um depoimento.
Segundo Vicentini Gomez, o que torna o documentário interessante é mostrar o cotidiano e perceber que, apesar das diferenças, cultural e social, que separam os depoentes, suas visões sobre o tema se cruzam.
Com uma prévia exibida no domingo, o documentário emocionou a todos com as histórias de superação e determinação para alcançar a felicidade, buscar o amor e a realização pessoal. Terá sua edição finalizada e será apresentada no final de setembro, prometendo, ainda, mais emoção e surpresa!
A oficina foi uma grande oportunidade, para mostrar que é possível fazer cinema em Presidente Prudente. Apesar de ser uma área de pouco investimento na cidade, existem excelentes profissionais dispostos a trabalhar com extrema dedicação.
E os planos não param por aí. Motivados pela oficina e com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Presidente Prudente, alguns participantes estão planejando a criação do Cine Clube Municipal.
Haverá,ainda, no mês de agosto, a oficina de Cineclubista, ministrada por José Vinagre, na Oficina Cultural Timochenco Wehbi .
E acrescento, mais, que tudo é possível e válido para a realização do Amor e da Felicidade, posto que, se valorizarmos apenas nossos limites, nunca viveremos, plenamente, a vida.
Superar-nos também é isto, um processo de autoconhecimento.
... E é isto aí, pessoal, luzes acesas e mão na roda!


Primeiro dia de oficina

Reunião para discussão de roteiro
Reunião para divisão de equipes
Alguns flashs da gravação do depoimento

Vicentini Gomez...depois da gravação

Equipe de gravação

Equipe na finalização da oficina.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

As facetas do preconceito


Nessas férias, vivi tantos momentos. Infelizmente, pude constatar que ainda há muito a ser feito, para se quebrar o preconceito. Saí com muitos amigos. Como a diversidade é grande. Percebemos como o “diferente” ainda  assusta, causa indignação, impotência, em outros raiva; por incrível que pareça vivi tudo isso em um mês.
O que percebi foi que, quando saí com amigos sem deficiência física, a única fonte de olhares diferentes era eu mesma, mas nada que não fosse contornável ou superável.
Outra situação foi quando fomos numa festa e depois num bar, com um grupo  mais diversificado,  com quatro amigos sem deficiência física, um gay e eu, cadeirante. Sim, estranho falar dessa forma, mas é assim que somos classificados... Foi exatamente dessa maneira que ouvi o garçom se referir ao outro para nos atender.
Falando em garçom, também achei graça quando saí com uma amiga, que mora em São Paulo, (tem má formação congênita nos membros inferiores e superiores, ou seja, usa  prótese nas pernas e não tem parte dos dois braços), a mãe dela e  a minha mãe, pedimos água e refrigerante e ela um chope. O garçom nos serviu e o chope botou para a mãe dela, quando ela disse, o a água é minha, o chope é dela, ele ficou tão surpreso, enrolou-se todo para servir e trouxe um canudinho para ela beber o chope, detalhe, ela não precisa do canudinho, ela faz tudo normalmente, inclusive pegar num copo para beber seu chope.
Dias depois fomos numa igreja, num culto de jovens, gostei bastante, pessoal bacana. O curioso foi que um dos jovens que estava pregando ficou tão “sensibilizado”, tão sem saber o que fazer, que ficou atrapalhado na hora de falar. Foi então que entendi que ele queria nos dizer que aqui na terra estamos “infelizes”, mas que lá no céu teremos “asas para voar”. Percebi que ele sentiu uma pena da gente, tadinho; ele só conseguiu enxergar  nossos corpos, nada além disso...  E no momento que ele falava, nos olhando fixamente, uma outra amiga nos ofereceu uma bala, eu toda enrolada com minha coordenação, peguei mas não abri, quando ouvi a pessoa perguntar para minha amiga que não tem as mãos e parte dos braços: ”quer que eu abra pra você?”. Antes de terminar a pergunta, ela já estava levando a bala na boca e ainda me perguntou se eu queria que ela abrisse a minha. Imediatamente tomei “vergonha” e abri a minha, mesmo com dificuldade. Percebi que o “pregador” olhou a cena mas não enxergou, não entendeu que não somos dignas de pena, que não somos seres infelizes aguardando chegar nos céus para voarmos...Voamos aqui!!(hehe)
Como sempre digo, o preconceito é uma praga que denigre a espécie humana. Não foi diferente no hospital onde minha avó ficou internada. Eu e minha mãe fomos passar a tarde com ela, quando chegaram dois enfermeiros para levá-la  a um setor de RX. Percebi que um deles, ao me ver no quarto ficou extremamente irritado, sentiu raiva, pediu para sairmos, para que preparassem minha avó. Fomos para o corredor e nesse momento aconteceu uma coisa muito engraçada, uma enfermeira chegou, pegou na minha cadeira e disse:” O exame é na sala ao lado”. Respondi: “Não sou paciente, estou visitando minha avó, sou cadeirante só, não estou doente!”
Ela ficou tão sem graça, que mal conseguiu pedir desculpa. Voltando ao enfermeiro, que estava profundamente irritado com minha presença, voltou no quarto no final da tarde e meu avô já havia chegado e mais dois parentes, ele perguntou o grau de parentesco de cada visitante, claro que não me perguntou nada, minha mãe que disse, ela é neta. Ele não deu resposta e pediu que meu avô fosse falar com ele  no corredor. Simplesmente solicitou que ele me mandasse sair porque estava tomando muito espaço lá no quarto. Meu avô não sabia o que fazer e falou para minha mãe. Como era um ambiente de hospital, ela não discutiu,  por medo que ele maltratasse minha avó, e simplesmente me chamou pra irmos embora.
 Também fui num jornal no Paraná (não nessas férias) mas o absurdo foi tão grande que vale ser citado. Estávamos divulgando um projeto de inclusão, que participo. Fomos eu, uma outra garota que é desse estado e também faz parte do projeto e o autor do mesmo (que não tem deficiência) e meus pais. Fomos recebidos pelo editor-chefe e após a entrevista ele nos convidou para conhecer a repartição que, para mim, foi maravilhoso, já que curso jornalismo. Na saída, uma das jornalistas (que estava grávida) disse a outro colega: “nossa, que clima pesado, depois que elas saírem, precisamos mandar benzer esse lugar”.  Minha mãe, que tinha ficado para trás, porque ficou conversando com uma estagiária curiosa em entender melhor o nosso dia-a-dia, ouviu.  Ficou sem reação, porque considerava que num lugar de pessoas que trabalham com a noticia, que são consideradas tão cultas, lêem muito, porque a profissão exige, achou que essas pessoas tivessem a visão ampliada. Ela só conseguiu me contar muito tempo depois, porque o choque foi grande .
A resposta que dei à minha mãe é a verdade que carrego. O preconceito está em todas as partes; não tem cor, credo, classe social ou intelectual, não tem forma, não tem cheiro... Ele está impregnado na alma dos frustrados, dos soberbos, dos desavisados, dos ignorantes, dos fúteis, dos miseráveis...  Mas quem sou eu para criticá-los ou ignorá-los, se sabemos que a perfeição não existe?
Estamos aqui para aprender, evoluir, deixar nossa história marcada de maneira positiva, ou não, viver o que Deus preparou para cada um de nós, se Ele me permitiu essa deficiência é porque sabe que sou forte o bastante para assumi-la. Porque o mundo é de Deus, mas Ele empresta aos valentes!
A vida é feita de escolhas. Eu escolhi ser valente, ser feliz! E não há preconceito de  ninguém que vá me derrubar, porque não sou a deficiência, sou Camila Mancini.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

E lá vem o mito da Paralisia Cerebral.

O termo paralisia cerebral (PC) é usado para definir qualquer desordem caracterizada por alteração do movimento secundário, caracterizado por uma lesão não progressiva do cérebro em desenvolvimento.
O cérebro comanda as funções do corpo. Cada área sua é responsável por uma determinada função, como os movimentos dos braços e das pernas, a visão, a audição e a inteligência. Uma criança com PC pode apresentar alterações que variam desde leve falta de coordenacão dos movimentos ou uma maneira diferente, para andar, até a inabilidade para segurar um objeto, falar ou deglutir.
O desenvolvimento do cérebro tem início logo após a concepção e continua após o nascimento. Ocorrendo qualquer fator agressivo ao tecido cerebral antes, durante ou após o parto, as áreas mais atingidas terão a função prejudicada e, dependendo da importância da agressão, certas alterações serão permanentes, caracterizando uma lesão não progressiva.”  (Fonte: Rede Sarah Kubistchek).
No meu caso, como já expliquei em vários textos, minha dificuldade ocorre nos movimentos finos, como escrever com lápis, cortar alimentos com faca... e no andar, quando sou muito, muito lenta e descoordenada.
Mas o engraçado é que, quando é visível minha dificuldade, e é somente física, o cognitivo e a fala foram preservados. Mesmo assim, algumas pessoas assustam-se, quando lhes digo o  “nome” que define minha deficiência, uma reação de espanto, onde entra aquela clássica dúvida: “Meu Deus, onde me estou metendo? Será que essa paralisia é genética, é progressiva, será que a qualquer momento ela poderá ter um surto psicótico? Será que ela vai conseguir entender tudo que vou dizer?
Isto ocorre, quando existem pessoas que ainda se dão o benefício da dúvida, que é direito de todos, quando estão diante de uma situação desconhecida. Ruim, mesmo, são aquelas que já determinam que não entendo nada, dirigem-se a quem me está acompanhando, para perguntar-lhe algo ou, se   perguntam a mim, usam a linguagem “fofinha”, que, por muitas vezes, nem criancinhas de cinco anos suportam.
Dois casos engraçados ficaram marcados. O primeiro foi com a apresentadora de um telejornal, do qual participei, para divulgar a parceria de um projeto de inclusão com um programa da mesma emissora. Ela sabia que ia entrevistar uma jovem com deficiência, que participa de vários projetos de inclusão e que acabara de ingressar na universidade, para cursar jornalismo. Maravilha!!! Até que recebeu mais informação e ficou sabendo que tenho PC. A pergunta imediata foi: "Nossa, ela vai entrar de maca? Ela vai conseguir comunicar-se? O que farei, quando ela entrar? Como a entrevistarei?"
Aí chegou o momento que mais adoro, a hora de desbancar a inimiga nº 1 de todas as pessoas com deficiência e a principal fonte do preconceito, neste caso, a má informação. Quando fomos apresentadas e ao longo da entrevista, senti que sua insegurança e incerteza foram desaparecendo, até que, ao final, ela me disse que fazia outra ideia de Paralisia Cerebral e me agradeceu,  por tê-la esclarecido, mesmo que indiretamente, esta questão.
O segundo caso foi o mais cômico ou trágico, dependendo do ponto de vista. Conheci um garoto, paixão à primeira olhada, literalmente. Saímos, conversamos muito. Três dias depois de total romance, eis a pergunta: Cáh, por que você está na cadeira de rodas, foi acidente?
Respondi-lhe: Não! Tenho paralisia cerebral, que afetou minha coordenação motora.
Pronto! Fiquei solteira novamente. Só essa palavra bastou para que ele se assustasse.
Se você cruzar com alguma pessoa com PC por aí, não fuja, pois, mesmo nos casos mais complicados, é possível manter-se a comunicação. Somos PCs e não ETs .
Informe-se, mais, sobre os tipos de PCs, acessando o site do Centro de reabilitação Sarah Kubitscheck.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Vale quanto pesa?


Após três anos usando cadeira de rodas, depois de um mês de treinamento no Centro Internacional de Reabilitação Sarah Kubitschek, houve a necessidade de troca da cadeira.
Até então,tocar (empurrar) a cadeira era uma árdua tarefa para meus braçinhos tão femininos e “fracolinos”, acompanhados da minha notável falta de habilidade na coordenação motora. Nos treinamentos, saí-me bem. Então resolvi pôr em prática as orientações, adaptações em casa e afins, inclusive a nova cadeira, com material mais leve, para eu, finalmente, alcançar meu principal objetivo, que é ir e vir, sem precisar de auxílio. Direito básico, não?
É necessário entender, porém, que, para nós, a compra de uma cadeira de rodas não é simplesmente olhar para ela, gostar dela e levá-la. Com efeito, cada pessoa  tem tamanho  e peso diferentes, razão por que as medidas são específicas e adequadas a cada um. Não podemos nem devemos adquirir uma cadeira fabricada em séries, pois isso pode causar graves lesões posturais e até piorar o quadro da pessoa com deficiência. Como muitos pensam, não é porque somos deficientes que somos feitos em uma única forma. O ato de comprarmos uma cadeira é como o de comprarmos uma roupa, tem que estar ajustada ao nosso corpo e nos cair bem.
 Ao começar a pesquisa de modelos e preços, cheguei à conclusão de que as fábricas nacionais estão anos luz a oferecer-nos a qualidade tecnológica ,  conforto, segurança e principalmente o que eu estava procurando, que era uma cadeira mais leve. Essas qualidades encontrei somente nas cadeiras importadas.
Enquanto a minha pesa 13 quilos, as que estou olhando pesam de 5 a 6 quilos, sem falar no sonho de consumo de qualquer cadeirante, que é a Panthera, fabricada na Suécia, que pesa 2 quilos, com dinâmica perfeita, produzida com fibra de carbono.
É aí que a realidade do bolso de nós brasileirinhos cadeirantinhos pesa mais que o sonho do conforto e da independência, pois esse sonho custa a bagatela de R$16.000,00.
 Constatando essa realidade que, por hora, me impede de adquirir essa possibilidade de facilitar, um pouco mais, minha vida, vem a pergunta: Por que o governo ainda não reduziu ou isentou os impostos sobre equipamentos que são de essencial importância  para melhorar a qualidade de vida daqueles que travam uma luta diária, no simples ato de sair de casa, pela falta de acessibilidade, pelo descaso de anos, pela exclusão que ainda vige em muitos aspectos?
Seria uma maneira justa de demonstrarem que absorveram realmente  um dos princípios básicos para uma verdadeira inclusão o de que  somos consumidores como qualquer outra pessoa, também contribuímos com o crescimento da economia desse país e, por isso precisamos ter nossos direitos básicos de cidadãos respeitados e a garantia de acesso a esses equipamentos e a tudo que nos torne parte presente e atuante na sociedade, sem sermos explorados. Então vamos lá,lutar por mais essa mudança.

domingo, 8 de maio de 2011

Os frutos da boa árvore

Hoje é Dia das Mães, mas minha homenagem será para o homem que, em muitos momentos, foi homem e mulher da casa e da família. E tenho certeza de que minha avó, como representante da figura materna de toda a nossa família, também irá concordar com que todo esse dia seja voltado para homenagem a ele, meu avô, que nos deixou no dia 2 de maio, abrindo uma fenda de saudade em nossos corações.
Como já disse várias vezes, ser deficiente, em minha época, já é uma batalha imensa, árdua, contra o preconceito e a favor da inclusão, a qual é quase invisível e impossível... Multiplique todas essas dificuldades  50 anos atrás. Difícil, não? NÃO! Não para ele, seu João Mancini, que teve meu tio Ronaldo, que nasceu sem um dos braços (que, como muitos de sua geração, foi vítima da Talidomida). Mas isto não o impediu de ser o homem bem-sucedido que é... Graças à sabedoria de meu avô, que  foi além do entendimento humano, que serviu, também,  de alicerce e inspiração aos meus pais para minha criação.
Por esses motivos, compartilho com vocês  a homenagem que fiz a ele.
 Os homens vêm à terra para deixar sua parcela de contribuição na história da humanidade, mas  são poucos aqueles que deixam registrada sua história  de forma visceral, onde suas realizações  serão contadas sempre com orgulho.
Quero falar de amor, quero falar de João Mancini! Meu avô tão querido, homem de poucas palavras, porém de atitudes nobres, corretas, de pura bondade e sensatez. Sacrificava sua própria vontade para ver as pessoas a sua volta bem e felizes. Semeador incondicional (no sentido mais puro da palavra) da paz e da harmonia.
Em momentos particulares com a família, nos almoços dominicais, enquanto descascava as laranjas para nós, tirava, de nós, gargalhadas com suas piadinhas ingênuas (já muito conhecidas). Mas, pela maneira com que nos contava, tornavam-se novas e  engraçadas...
Homem honrável, que soube dar veracidade à frase: “Árvores boas dão bons frutos”, frutos maravilhosos, que trilham os caminhos ensinados por ele; somos todos cúmplices dessa verdade a cada dia.
Homem de família, que deixou de lado os dogmas e estigmas de seu tempo, de que função de homem era somente colocar dinheiro dentro de casa, dedicou-se, intensamente, ao seu trabalho de administrador, por mais de 25 anos, numa empresa multinacional; e a igreja São José, onde foi ministro por longos anos. Também, no funcionamento e andamento do lar, sabia tudo, dividia com sua amada tarefas particulares e consideradas atribuições somente femininas. Marcava os finais de tarde de minha infância com o cheirinho do virado de feijão e polenta frita, que ele adorava preparar para mim; e sempre vinha com uma frase que jamais se irá apagar de minha memória: “Hoje tem polenta frita, fia, vamos comer, hein”?
Homem culto, todas as manhãs, com o auxílio de sua inseparável lupa, por conta de sua baixa visão, vítima da maldosa e implacável diabetes, lia o jornal “de cabo a rabo”, como dizia muitas vezes, e ligava para nos informar de algo que julgava ser importante para nós.
Homem fiel e leal a sua amada, Dirce Mancini, cumpriu, à risca, tudo que prometeu no altar, 53 anos atrás; amou, respeitou, dedicou cada minuto de sua vida a ela com cuidado e devoção, um amor que  foi, é e será exemplo e referência para minha vida. E sei que também o foi para muitas pessoas que testemunharam essa convivência de mútuo respeito.
Deixou-nos o exemplo verdadeiro do que é ter ética, humildade, fidelidade, lealdade, honradez. João Mancini foi sinônimo de retidão de caráter!
João Mancini morreu de infarto... O amor que ele cultivou em seu coração era tão grande, que seu peito suportou, por 76 anos, até que não mais aguentou e morreu de amor e com amor.
Em nome de sua sempre e única amada Dirce Mancini, seus filhos Ronaldo e Marcelo Mancini, suas netas Carolina e Natália Mancini, suas noras Vera e Valeria Mancini, agradecemos a Deus, por permitir-nos ser frutos e cúmplices dessa árvore, dessa trajetória de vida.
O amor nunca morre... até o nosso reencontro,(tivemos, em oração, a resposta de que, por meio de tuas provações, terás um lugar privilegiado nos céus).
Até lá, “ Seu João Tubiba.”
Nunca o esquecerei.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A comédia repugnante da MTV Brasil

Em todos os lugares onde falo sobre inclusão, sempre digo que a mídia é e será a maior colaboradora no trabalho pela inserção da pessoa com deficiência na sociedade, pois ela tem o poder de difundir e informar  algo que ainda carrega muitos estigmas e preconceitos.
O que é decepcionante, principalmente para mim, enquanto estudante de jornalismo, é ver a mídia usando tamanha força e poder de opinião de forma disfuncional e contrária a todo princípio ético, de respeito ao ser humano e suas individualidades e diferenças. Isto foi o que pude constatar, quando recebi um vídeo em uma de minhas páginas de rede social.
Trata-se do quadro (que é uma paródia ao programa do SBT Casa dos artistas) “Casa dos Autistas’, no programa Comédia MTV , que foi exibido no dia 22 de março e agora está circulando com grande repercussão e, graças a Deus, repercussão negativa. Feito por uma escória de “humoristas” que usam desse lado obscuro e aproveitador do “humor", para fazer deboche, demonstrando toda uma falta de talento e criatividade da parte desses “atores”
É um vídeo ofensivo, com um requinte de mal gosto, repugnante! Totalmente avesso ao que muitos grupos estão fazendo, que é  buscar o direito de igualdade perante a lei, respeito às diferenças, à inclusão social.
A indignação está tomando conta de grande parte da sociedade, porquanto o programa humilha as famílias, os profissionais, as pessoas ligadas à causa do Autismo e a nós, que, apesar de leigos no assunto e de pouco conviver com as particularidades do autismo, nos sentimos ultrajados com a propagação do preconceito  dos mais vis, em pleno auge da luta pela inserção da pessoa com deficiencia na sociedade,  a falta de respeito , de cidadania, reforçando o estigma de que os deficientes representam incapacidade,que são seres desajeitados,quando sabemos que isto é uma inverdade absoluta.
Wilson de Luces, pai de uma criança com autismo e grande colaborador na luta para a inclusão do deficiente na sociedade, considera o programa uma demonstração de falta de inteligência. “A MTV nos demonstra, mais uma vez, que inteligência não é o seu forte. Não assisto a ela, porém chegou-me um vídeo postado no You Tube - Comédia MTV - "Casa dos Autistas". A julgar pelo nome, deveria ser algo engraçado, mas não o é. "O preconceito não tem graça", disse Henfil, saudoso humorista que acalmou nossas almas durante a intolerância da ditadura. E agora?! A ditadura da perfeição? O que seria a perfeição? Fiquei triste! Muito triste mesmo! Foi isto o que conseguiram criar, para fazer as pessoas rirem? Que tristeza, jovens! A cada cena, pensei em meu filho de 5 anos, que bravamente resiste à pressão de tratamentos multidisciplinares e a esta inclusão escolar a que o submetemos 8 horas por dia. Pensei, também, em minha esposa e suas noites mal dormidas e choradas. No mínimo, foi um desastre. Lamento ter que escrever sobre isto, em pleno século XXI.”
Não sou contra informar sobre a deficiência, usando o humor. Porém informar esse assunto é esclarecer, desmistificar e debater os fantasmas e preconceitos que rondam acerca de qualquer deficiência. E, usar o humor para isto, significa mostrar a maneira leve de como encaramos a vida,  sempre prontos a enfrentar qualquer dificuldade, sem perder a alegria, a naturalidade e a capacidade de superar as mais adversas situações.
Aguardemos, portanto, que esses ”humoristas” tenham ciência da responsabilidade que carregam como formadores de opinião, principalmente pelos jovens, que são o público alvo dessa emissora e que estão vulneráveis a esse tipo de atitudes, porquanto formando sua personalidade. Que esses mesmos “humoristas” e toda a equipe da emissora, responsáveis pelo mencionado quadro, tenham a honradez de se retratar publicamente de maneira mais convincente.
E espero que a mídia continue cumprindo seu papel importantíssimo na luta pela inclusão do deficiente na sociedade, não importando a maneira com que essa mensagem seja passada para a sociedade ( drama, humor...), desde que seja de maneira responsável, ética e esclarecedora.
Isto é o que entendo como a verdadeira liberdade de expressão!

Segue abaixo o link do abaixo-assinado.