domingo, 8 de maio de 2011

Os frutos da boa árvore

Hoje é Dia das Mães, mas minha homenagem será para o homem que, em muitos momentos, foi homem e mulher da casa e da família. E tenho certeza de que minha avó, como representante da figura materna de toda a nossa família, também irá concordar com que todo esse dia seja voltado para homenagem a ele, meu avô, que nos deixou no dia 2 de maio, abrindo uma fenda de saudade em nossos corações.
Como já disse várias vezes, ser deficiente, em minha época, já é uma batalha imensa, árdua, contra o preconceito e a favor da inclusão, a qual é quase invisível e impossível... Multiplique todas essas dificuldades  50 anos atrás. Difícil, não? NÃO! Não para ele, seu João Mancini, que teve meu tio Ronaldo, que nasceu sem um dos braços (que, como muitos de sua geração, foi vítima da Talidomida). Mas isto não o impediu de ser o homem bem-sucedido que é... Graças à sabedoria de meu avô, que  foi além do entendimento humano, que serviu, também,  de alicerce e inspiração aos meus pais para minha criação.
Por esses motivos, compartilho com vocês  a homenagem que fiz a ele.
 Os homens vêm à terra para deixar sua parcela de contribuição na história da humanidade, mas  são poucos aqueles que deixam registrada sua história  de forma visceral, onde suas realizações  serão contadas sempre com orgulho.
Quero falar de amor, quero falar de João Mancini! Meu avô tão querido, homem de poucas palavras, porém de atitudes nobres, corretas, de pura bondade e sensatez. Sacrificava sua própria vontade para ver as pessoas a sua volta bem e felizes. Semeador incondicional (no sentido mais puro da palavra) da paz e da harmonia.
Em momentos particulares com a família, nos almoços dominicais, enquanto descascava as laranjas para nós, tirava, de nós, gargalhadas com suas piadinhas ingênuas (já muito conhecidas). Mas, pela maneira com que nos contava, tornavam-se novas e  engraçadas...
Homem honrável, que soube dar veracidade à frase: “Árvores boas dão bons frutos”, frutos maravilhosos, que trilham os caminhos ensinados por ele; somos todos cúmplices dessa verdade a cada dia.
Homem de família, que deixou de lado os dogmas e estigmas de seu tempo, de que função de homem era somente colocar dinheiro dentro de casa, dedicou-se, intensamente, ao seu trabalho de administrador, por mais de 25 anos, numa empresa multinacional; e a igreja São José, onde foi ministro por longos anos. Também, no funcionamento e andamento do lar, sabia tudo, dividia com sua amada tarefas particulares e consideradas atribuições somente femininas. Marcava os finais de tarde de minha infância com o cheirinho do virado de feijão e polenta frita, que ele adorava preparar para mim; e sempre vinha com uma frase que jamais se irá apagar de minha memória: “Hoje tem polenta frita, fia, vamos comer, hein”?
Homem culto, todas as manhãs, com o auxílio de sua inseparável lupa, por conta de sua baixa visão, vítima da maldosa e implacável diabetes, lia o jornal “de cabo a rabo”, como dizia muitas vezes, e ligava para nos informar de algo que julgava ser importante para nós.
Homem fiel e leal a sua amada, Dirce Mancini, cumpriu, à risca, tudo que prometeu no altar, 53 anos atrás; amou, respeitou, dedicou cada minuto de sua vida a ela com cuidado e devoção, um amor que  foi, é e será exemplo e referência para minha vida. E sei que também o foi para muitas pessoas que testemunharam essa convivência de mútuo respeito.
Deixou-nos o exemplo verdadeiro do que é ter ética, humildade, fidelidade, lealdade, honradez. João Mancini foi sinônimo de retidão de caráter!
João Mancini morreu de infarto... O amor que ele cultivou em seu coração era tão grande, que seu peito suportou, por 76 anos, até que não mais aguentou e morreu de amor e com amor.
Em nome de sua sempre e única amada Dirce Mancini, seus filhos Ronaldo e Marcelo Mancini, suas netas Carolina e Natália Mancini, suas noras Vera e Valeria Mancini, agradecemos a Deus, por permitir-nos ser frutos e cúmplices dessa árvore, dessa trajetória de vida.
O amor nunca morre... até o nosso reencontro,(tivemos, em oração, a resposta de que, por meio de tuas provações, terás um lugar privilegiado nos céus).
Até lá, “ Seu João Tubiba.”
Nunca o esquecerei.